Meu Trapezio Alado


Viver da espera
do momento certo
de se entregar.

Levo nos ombros
todo peso do mundo
que ainda posso suportar.

Me saltam olhos da pele
respiro fundo
para que os gritos
não me façam cambalear.

Não guardarei silêncio
nem esquecimento.

Levarei doçura e atrevimento
raiz e sofrimento.

Até o dia que me deixarei de lado
pra ser pó e, oxalá, alimento p'ra terra.

E também pra ser pele memória
para aqueles que sonham
de seu passado lembrar.

Debaixo da cama

Deveras sentes
o que te pretendo,
o que desejo?

Mãos, peito, sereno.

De quanto tempo
precisas para somente
um segredo?

Juntos é palavra viva
rara
de se encontrar.
Danço no contratempo
como chuva com vento.

Deveras sentes
o que quiçá
não pertence ao teu tempo.

Angustia, nostalgia e medo.

Falei baixinho
mas logo se percebe
que não se trata de mim.

Se trata de mistérios.

Miragem



Olho no olho
frente ao espelho

pisco forte
outra
e outra
vez

ao abri-los
borrão
se não
me fito
até reconhecer
as rugas do riso
e do medo.

Ilusão de ótica

passando as noites
vendo a lua crescer
minguar e desaparecer

passo a noite
em pretensões
de apenas ser

de poros abertos
para o prazer,
atenta ao perigo -
ossos de um ofício
de apenas ser -.

escapo dos olhos da noite
enquanto fecho os meus
na entrega sonora
de me reconhecer.

vem, aprendi um atalho.

vem, acorda!

não sou eu a desonesta...
inocentes só são as pedras.

carta-resposta - sexta 13 de março de 2015.


fragmento:
 
"Todo tempo as pessoas querem te convencer de esquecer o que é desagradável. Bobagem! O que somos se não memória do trajeto que percorremos? Quando se crê que é possível andar sempre pelo lado lindo e luminoso, muitos incovenientes vividos acabam nos atrapando nas voltas do mundo, repetindo situações que insistimos em esquecer.

Delícia é viver com plenitude, por mais que lidar com “tudo” seja um fardo, às vezes, pesado de carregar. Eu acredito que é possível, mesmo que não constantemente, estar pleno.

Vejo meu corpo enrugar. Nas linhas ao redor dos olhos, nas estrias da pele que fica flácida. Vou tomando consciência de cada história gravada nesse enrugar. Me olho no espelho com admiração e medo. O que virá? O que virá? Melhor deixar ser, perceber que nem sempre estamos no controle do tempo."

Previsto

mesmo já sabendo
que o tempo
no seu caminhar
vai curar,
vai trazer o esquecimento

e a dor de não entregar meu gozo
a ti
vai passar.

Mesmo já sabendo...
do agora não há escapatória

Por hora as células movem
não se encontram
nem percebem
todo o demais ao redor,
(e tão pouco o vago sabor de estar só).

olhar o que está dentro
sonhar no contratempo da dança dos astros
pousar junto ao pó das pedras do deserto.

melhor fluir... matar o tempo.

Enzima


sonhar quando
o vento é molhado e frio
sabendo que mesmo caminhando
em solidão
nunca se está só

(desviando os ataques
os zumbis
os tiranos)

a vista por vezes não cabe
de tanto ver
busco o alcance do céu
abrir peito
e respirar profundo

Pois caminhar no labirinto
onde o corpo putrifica
faz meu estomago revirar enzimas
do engodo que é tolerar
violencias e mesquinharias.

A verdade é
que nenhum desafeto
vale a azia

Luna Sonriente

Ya!
Esa noche
la vida tiembla.

Le acojo a mis pies
enseño mis sueños a nadar.

Yo no sé nadar
?pero eso que importa
cuando uno habla de imaginación?

Ya!

Quisiera parar un rato
concentrarme en mi
en la rutina
en todo lo que hay que hacer

Pero no
Me quedo hablando sola
Yendo y volviendo en el tiempo
recreando historias olvidadas.

Hasta que miro al cielo
(ya es noche otra vez)
y me pongo a sonreir.

Tu, gigante,
me sonrie de vuelta.

Dolor de dientes

Uno echa de menos
la paz
cuando a uno le duele

Pele em Febre

Corto caminho
nas buscas
nos encontros

Assim te vejo
solto os braços
abro peito e me desarmo.

Peço licença,
me lanço

Tão delicioso se jogar
olhar o céu
e flutuar

A luz ofusca.
Por momentos me vejo
balanço, descanso
no teu seio
me deixo levar.

Assim passam as horas
e no teu peso suave
me engrandeço.
Sou do tamanho exato.

Nem mais, nem menos
Sou meu ponto de contato.

Passado o tempo
sinto que queimo.