O avesso de Dentro

eu me revolto
sem voltar à mim
(ou a ti)
as palavras de angústia
e espera
por coisas diferentes e melhores.

Olho os ombros.
Eles me falam se alguns corpos
sentem, simplesmente, o peso do mundo
ou se, forçosamente, tentam lhe carregar.
Outros ombros estão eretos
por pura leveza
seja qual ela for.

Não rumino paixões adormecidas.
Abro os olhos e sinto o infinito
de possibilidades
ao meu alcance.
O que faço primeiro?

Arrumo dentro, arrumo
o quarto e a sala.
Lavo as decências lamosas.
Costuro os retratos
da minha falta de paz.

Eu e minha casa
abertas para o vento
brincar dentro de nós.
Abertas para a invenção
de novos dias,
mais coloridos e melhores.

Não queira bater,
pedir licença
Estamos abertas e sem espera.

Sementes negras

Clarear as esperas
há um longo caminho até os negros salmos de dezembro
(apesar da pressa)

Uma espada vem em minha direção
e pede prudência.
Como?
se há sangue esvaindo dos sonhos que germino.

Não é meu tudo isso que chamas de
amor e espera
Compreendes agora
o que quero dizer
ao negar tua covarde dor
e encontrar no amor
apenas entrega?

Sorrateiro

submarino negro
de costas trançadas

soterrava as esperanças
cantadas na vida cega

Submarino negro
submerge as entradas
as mata afogadas

Trancei teus cabelos
rasguei as cartas
Mirar a mágoa
Sugar dela.

Domingo, 6 de julho de 2008.

covarde a busca por noites tranqüilas


tanto ecoar, em busca de mais solidão
parte de tudo que entendemos por decantar

eu não entendo o que dizes
esses tantos dizeres que me provocam a sensação
de desencontro
daí propomos o andar

antes só singular
buscar noites quietas num só lunar

eu converso
me conecto
só estar
perto do que me encandeia
do que afirma em ante-mão (não precisamos mais doer)

em busca de pedaços com encaixe
é cama e carrasco meu corpo.

Quarta-feira, 18 de junho de 2008.

Sangria

a vida rala
rasa de imagens
rala, e pouca e quase nada de sincronias
anáfora, amorfe, anágora.

vida em pausa
dos sangues correntes
nas veias, e nos seios e nos ralos.
vida violenta, violada, violeta
Tombada em esquinas
estupros
ruínas
abusos

versos tensos
ritmados por agonia
agonia
a
go
nia

Segunda, o9 de junho de 2008.

Outro Sonho

Contar aos teus olhos
que cantei alto até que a terra
vibrasse

Contar aos teus pêlos
que expirei noites frias
até que o sol morresse.

Contar as tuas rugas
que rasguei os planos
até que a mentira cansasse.

:: Segunda-feira, Abril 21, 2008 ::

abrir-se em nada mais que...

era branco quase nada
tão longe quase nunca esperava
compus rima em mente
nada sujei em pele

quando o dia compôs
sorri

quando inventei o sol
cansei

mas eram todas brancas (as manhãs)
as páginas
todas tristes, as quimeras

agora que o som é quase calado
sigo raso o que falta ser exato.


:: habitante de mim 1:08 PM


... :: Segunda-feira, Abril 07, 2008 ::

Outra Milonga

e por menor que seja a viga
não basta ombro e encosto
não basta a vida pra sustentar

Há tropeços de vôo raso
coisas miúdas pra se importar

roupas leves que quaram pelo dia
riso novo de quimeras antigas

Tão pouco é o sotaque que muda
talvez, e também, a terra árida
e aqui úmida.
dos olhos de pessoas que já não podem
mais esperar...

o ar:
(o sopro dos messias escondidos em demagogias)
É vapor quente.

E agora sei, que o melhor vento
é aquele clandestino
que de tão fresco anuncia chuva.

:: habitante de mim 12:25 PM
...
Cine-poema I

Nouvelle Vague combina
(perfeitamente, digo)
com o paraíso

Devemos ser felizes
e longe de todo dever
assim o somos.

Achar o tesouro
fechar os olhos
ficar no escuro
e fugir
(Se você puder).

:: Quinta-feira, Janeiro 31, 2008 ::

toda derme

"profunda é a pele..." (Paul Valéry)

Sabia do gosto
- tempero da vida -
soaram outros sopros
outras formas de escrita

Vi na crueza da rua
pontes de pele
entre eu e a poesia

Em paredes, calçadas
e no véu das cortinas
algo mais forte
rompia os muros
pincelados de ideologias

Sem estrutura
O caos chega calado
me abriga em dança
rasgando a surdez
desse sonhos contidos.



:: habitante de mim 6:33 PM

... à quem se entrega

Palhaço, antes era medo
de tua imagem
hoje é algo além de risos

Não sei dizer
talvez algo como conforto
intimidade
não... já sei
Do teu lado sinto liberdade

Palhaço de riso largo
fala rouca e atropelada
Se teu relógio fosse o tempo
já estaria tudo resolvido

Mas assim (sem tempo) é melhor
dá pra respirar com calma
e na sobra da vida criar.

:: Terça-feira, Dezembro 04, 2007 ::

Outro Lar

Sobre nossas cabeças uma oferenda.
achada no véu
de um sonho retido.

Alguém veio, e disse que não
tudo que é resto
(que é tudo que temos)
é achado no lixo.

:: Segunda-feira, Setembro 24, 2007 ::

Nem toda vida é vontade

Água nova
sangue velho que flui.
Abriu-se um canal
o sangue é seco.

Água nova num corpo podre
limo.

Movimento de restos
movimentos que violam
tocam
sopram
com intensão de trocar.

O caminho vai voltar mas não o mesmo.

:: Segunda-feira, Agosto 20, 2007 ::

Pela manhã

E quando me vou?
Já não é mais que somente raiva
(a ácidez no estômago, as rugas
carregadas no olhar)
E proteção.

Mas o que não é em vão?
Eu que quando saí de mim
Não encontrei nada mais que avesso.
E nada mais me perde, e nada mais sabe o que é leve

errado em mim, no que escolho.
Mas não é tudo

:: habitante de mim 3:18 PM

... :: Quinta-feira, Agosto 02, 2007 ::
...
Estou de partida
Muitas partidas na
mesma hora, hora de movimentos
contrários-roda-2,1,4, rodas ou patas

cantos, boleros, pássaros
entre calmas e devaneios de uma
explosão de cidade

Eu aprendendo feito guri
O sabor do silêncio no meio
de tempestade
De camas com agulhas
penduradas
estou de partida
Na mata, no hospital ou na cidade

Partida e chegada
Não me importo de ter
sido carregado na carruagem desencantada
com todas as dores pós-sangradas
Desculpas de um mar
Uma cidade, velas acessas
Pelas calçadas. Descarregando meus fantasmas.

Me mostrei inteiro
Jamais metade... fantasmas
Agora preciso do desconhecido
um eu em pseudo-anonimato.

O poeta vagabundo em compassos.
Eu vi ele comprando cera, água sanitária – sanitários, sanatórios...
Olhei sem saber ver
Sem minhas proteções na privada
Enxerguei de verdade guei – enxerguei – já disse!
e não foi metade!

Belas e ruins são nossas metades.
Quero mas não estou mais procurando um amigo-amante
Inteiro me encontrem
sem fazer semblantes.
Mostrando-se as metades
paro aqui pois preciso andar
e aqui fico inteiro e não metade.

(Pablo Garmus)

:: Quinta-feira, Junho 21, 2007 ::

O vão dos olhos

O sol veio apenas para nos prender
E agora que ele se foi
reparo os papéis puídos de traça
É hora de remanejar a poesia.

O espelho quebrou
Mas pelos cacos ainda posso me ver.
Já é quase-pó, já é outra memória.

'Um dia acordarás
e verás que parte do teu outro
se foi.'
Esmero-me em ser pedaço.
E tudo está em calma.

:: Quinta-feira, Maio 24, 2007 ::

Emetropia

p'ra que a escrita
se transforme em sangue-
ouro-mercúrio

e não seja amassada em
vômito
esquecendo que casa
soprejar
é profecia.

Entre o absoluto
e o singular
concentram-se intesidades
de todo gênero.
(mas não vamos demorar nisso)
Para lidar com a história
de nossa identidade
com palavras que não explicam
nada
e soam surdas.

Não se trata de somar as partes
tende ser simples
do que é em si (do que é em si?)
repensá-lo.
Basta deus cantá-lo.
Não aprendi todos os nomes.

:: Terça-feira, Abril 17, 2007 ::

Já via muito d'uma pele que o sol tocou
com cuidado
Quando num outono
notou brotar
espinhos em sua pele

o peito concentrava a maior parte deles

Há dias
desconfiei das dores
(mas não diga que fui eu)
Era um pouco além do cansaço
Eu apenas esperei

E abaixo dos espinhos
haviam flores vermelhas

:: habitante de mim 7:04 PM
...
DiaL

A equação é simples
Querer ser não é ser
O que rompe o campo de visão?

Eu tento pensar
onde isso tem a ver comigo
E não com o mundo de lá?
Dentre quadrantes esquerdos
não encontro o começo do vazio.

Gente enferma me adoece
Me cansa, m¿enoja
Eu me vejo nisso
E perdi toda piedade

Os leões não brincam comigo
Já nem quero
Basta de querer

Ganhei máscaras
A face crua não se mostra mais
Eu não a conheço
Respeito as sentenças

E vens me dizer que minha voz
é de alguém vivo
perdi consciência de amor
já não sofro
maturar é sóbrio
não justifico essências

:: Sexta-feira, Março 16, 2007 ::

Otimismo

não sei do sol, não
o rosto perdeu Azulado
empobreceu branco
o chão tá claro

:: habitante de mim 5:24 PM

lesma

com todos os dedos que um dia
moldei o mundo
toquei
a dor

e o prazer


da minha coluna e vagina
escorre um muco
gozo-medula
para te dar desenhos e rastros
em chãos, buracos, caralhos
e paredes.

arrasto silêncio por onde como
úmida, no sal
encolho na insignificância negra
não posso mais chorar


toquei a dor
meu muco
Sopros não derrubam esse ar
é preciso bem mais
bem mais que socos lilases
e asco ao abandonar


Cubra os lugares em que me vês
nada vai voltar

:: habitante de mim 5:23 PM
...

Vômito Negro

Molhada
elas fazem amor comigo
eu pensei
ser doce
pois é o que ainda falta

se passou um dia
a água está podre
e colorida
Elas se perfumam desse ar
Elas se multiplicam
Eu tenho o riso do descontrole

se tudo girar bem
eu te seguro nesses dois dedos
pequena ou infinita
(não importa)
vejo tuas vísceras

:: habitante de mim 5:22 PM
...
:: Terça-feira, Março 06, 2007 ::

Depois da chuva

crianças ainda saem depois da chuva
há água transbordante
na sarjeta,
eu me jogo lá,
elas me recolhem com a curiosidade
de um novo brinquedo.

Meus cabelos arrancados
os olhos furados, depois pintados.
Quem mais vai te sentir?
os olhos cerrados
mais chuva
(esperei o sol
atrasei-me de novo)
Sentia os roxos
do meu corpo
sangrando em fisgas de pedra.

O brinquedo ficou velho.

:: habitante de mim 4:06 PM

Ruir

bastou a felicidade decidir
me levar pra bem longe
para tudo empobrecer
na intensidade

perco as crônicas do caos
e o medo resumiu-se estanque

sinto um tédio acre
dentro dessa bolha
sinto também
um disparo no coração da terra.
parar não deixa
o corpo quente.

Convém à moça do tempo
dar um tapa no globo.
As roupas puíram
de tanto quarar no tempo.

:: habitante de mim 4:05 PM

Luiza

nada que permita
tornar nossa imagem
esquecimento
soa tão doce quanto essa dor.

Quão ordinária sou
em recusar ordinariamente o amor
e todas ordinarísses que o envolvem:

ser junto
acreditar no amanhã
permanecer confiante e trágica.
Não vai acabar.
O fim é para todo sempre
e na manhã seguinte
algo esquecerá de mim.

:: habitante de mim 4:05 PM
...

Carranca

Costa grossa
estrita sinuosa
da noite sufocada
e da vista afogada

É um encantamento.
Quaisquer cantos
ou cubos sonoros
compõem memórias
desgostos.

(não espero o desespero)

:: habitante de mim 4:04 PM
:: Sexta-feira, Março 02, 2007 ::

Samanta

dois socorros para
uma perna
pedante

os nomes apagados
tudo feito
tudo meu

o tempo é todo meu

eu fingi que não via
e cuspi no chão

:: Sexta-feira, Fevereiro 23, 2007 ::

Grama

Me coma
ao menos antes
Que o resto de tudo
me faça.

foda meus poros,
o cú de onde sai merda pura,
pois no fim só restará

como ofensa da terra-
mãe-incestuosa

Sabe, comer é bem mais que gosto
cheiro
e soco.
Me coma
bem antes d'eu ser homem
devera mulher
soturna gruta

Cava fundo
essa pele que não é tua
Conta à memória
sobre o sentir naturaleza

Me coma
(alimentemo-nos desses mundos!
brindar o que resta.)
antes que a terra nos faça.

:: habitante de mim 11:37 AM
...

Ao redor

O grande homem
que não costumo ao ser
E cresce nesse mar-laguna
quão longe de meu póstumo-nascer.

E tem outra forma
de chegar lá
A qual não sei inverter o direito
no andar que nada movimenta
a não ser vento.

E s'eu parar?
O corpo novo não vai acostumar
Tantas normas
sem falar as contas
que não fazem somas às tardes de sol
Ricas em desapegos e trapaças.

Quanto à noite
não me chama a rua, sim a lua
De sombra que gira
dois a rodar
O mundo e o meu.
Toda cor não bastará.


:: habitante de mim 11:34 AM
...

Amorphe

n'aquele andar
que vai vai vai
(não tão longe morrer)
constituído de força e naúsea.

Os vizinhos plantam amorfos.
Colhemos o sono a todo instante
colhemos a falta de foco.
(facas criam pontos no gás
nada vai voltar)

As pedras me banham
já é noite
já há luz
Cozi o sangue imaturo
e o que não pretendia
rompi.

:: habitante de mim 11:29 AM
:: Segunda-feira, Fevereiro 12, 2007 ::

Acidentes para alvorecer

Não maturou.
Apodreceu!
como algo pode ser maduro
sem sabor
polpa e cor?

é difícil romper
a parte mais dolorosa do brotar
(em vida)
É preciso sangue pra lavar
essa dor bela e solitária
(negar a dor é negar o corpo)

'- O que posso fazer?
- Respirar e ver o nascer.'

Lambe as feridas
Embala a cria
Costura o estupro

já encontrei fórmulas
de voltar a rir (no escuro)

meu amor é o que posso.

:: habitante de mim 2:45 PM

Chega de Saudade

Por que um amor de portas fechadas?
(agora sinto balançar)
não há vento cá dentro
e dos sopros de novembro...
só restou torpor.

que lembranças pretendes guardar?
E da espera
soprou rancor.
O amor não chegará.
Então, eu estranha,
vou abrit os braços
e correr até ti.
Outro corpo irá flutuar
pele morta
náusea branda.

Quem sabe um dia, aviso
antes de chegar.

:: Quinta-feira, Janeiro 18, 2007 ::

Canibalismo

se correr o bicho come
é bicho homem
a quem se cria, do que se come
e se correr a morte chega
e se ficar
vira estado
o bicho homem, é que me come
trepa a terra, bicho corre
e vira relva
e pouco espera
e se correr o bicho é homem
corre e come
é na entrega que se esconde
o bicho come
correr o mundo
pra morte certa
a gente come.

:: Quarta-feira, Dezembro 27, 2006 ::

Vanila céu Cor-de-rosa-azul

Foi um momento roubado
não esperei nada
e os de-javus por essa pele
ficaram em transe
sem sol
("o sol é o sangue novo
que nasceu do pó")

Um buquê saca-se do muro
eram flores, na maioria,
por nascer
o olho desabrocha

a perna coça adoecer
(mas é preciso andar...)
o caminho se renova
à cada gasto.

:: habitante de mim 4:58 PM

... :: Quinta-feira, Dezembro 21, 2006 ::
Inquisição

gritaram:
é tempo!
os sons roucos
não sei
alguém recriminou minha nudez
(não, nunca é pouco)

:: habitante de mim 5:57 PM
...
:: Sexta-feira, Dezembro 15, 2006 ::

Constelação

Pensava
que no crescer
a visão ia decrescendo

Ao nascer
se tem a cegueira da luz
e com o tempo
o olho se acostuma com a cegueira
e encontra sombra

Quando infantil
o olho é grande
curioso
e vê tudo
e aos poucos
não se cria mais pelo olhar
toda imagem vira conceito
e o olho Diminui

:: habitante de mim 11:31 AM
...

Tempestuosidades
I

foi longe
nada perto
bem forte
(não tão forte quanto
me tocaria)

e pelo canto do olho eu vejo
uma sombra
sombra árvore
cheia de galhos sem folhas

eu vejo
através da voz sopro
soco
rouco

falo
tento romper o silêncio

tornar poesia objeto
significar o que não tem sentido
usurpar de cada momento

e catar (de pinça) dentro dos poros

os fios de eletre-cidade
que não acredito
temo, não quero


II

estranhamento do que não acontece
a chuva não chega
o céu aberto em minha janela

não há chuva
há fotografia dela
no meu olho
(não aquelas fotografias - artefatos,memórias-fetiche)
é grafia da luz escombro
que vai e se transforma


III

talvez não ouça minha voz
talvez nem falar seja ação
e quem dirá sobre poetizar?

não ter visto nada além de crias.
sombras
olhos
toques
sopros
mãos geladas
todo sentir agora

mas eu já sentia
e sentia o sim

loucura criança
fico louca de novo
cria minha
de sempre estar.


IV

crianças banham-se na chuva
(vou brincar com elas)
despreservar o corpo
a doença
um pouco
(sem morte, ronco forte)


sempre tem uma voz que recrimina
a grade elétrica brilha
uma árvore de estrelas
pé dançante de luz
a chuva fale


V

tudo começa com música
cheiro da rapidez
que essa cidade encharca
e a facilidade com que acabo ilhada


VI

a intesão de tocar o céu
tem de ser maior.

:: Terça-feira, Novembro 21, 2006 ::

Poema praiano

acordo recolhendo
os sóis que despencaram
no meu adormecer
(e já não há metáfora
a poesia se dá em viscera
nas palavras simples
uma reinvenção mundana
- boca do lixo - )

a água nebulosa
sedendo o negro das cavernas
eu bebo lodo
me banho nele
e lavo essa face.

:: habitante de mim 8:28 PM
...

O rápido balanço, abraço-me no descanço

estranha
dentro de um mundo-meu
repleto de imagens criptografadas
e sons esquizofrênicos

"invento mais que a solidão me dá"
e gastei a tarde em vôo
a favor do vento

:: habitante de mim 8:26 PM
...

Barco de Papel

Mal espero eu chegar
e escureço as janelas
para então sonambular.

"eu não preciso disso"
Não é uma questão de gosto.
Só preciso sorrir.

Foi pra ver as luzes noturnas
que acompanhei os passos.
Foi pra ver a pele de perto.
E quando não vi, doeu.

:: habitante de mim 8:26 PM

Desvio

hoje eu falo a sua língua
em ritmia

grande pausa produzida por barulho
quando tudo cala
e espera

ouço além das linhas
e do feno que não é fel
(além da voz pensante)
há fumaça arrepio


:: habitante de mim 8:26 PM
...
:: Sexta-feira, Novembro 17, 2006 ::

'escrever entre dois é poda'

(Giovane Oliveira e Eliane Rubim)
:: habitante de mim 7:08 PM
...

a burguesia ainda fede
o palhaço me vê
e vê viva a chama
ainda fede
carne de segunda
e eu não li 'tètè-à-tètè'
carne de segunda-feira

o que eles não compram
eles não contam
que amor pode ser livre se
a porta está fechada?

(Giovane Oliveira e Eliane Rubim)

:: habitante de mim 7:04 PM
...

Sarau, lua de 3 atrás - 2006

Uma festa como essa, prepara-se as comidas, os pastos, corta-se os pães. Chegam os alvos, os arqueiros. E a maçã?
(Será que tem alguém aqui? Será que esse beatnique interiorano, provinciano vem até mim?)
Ela não veio. Vai ser outro conto medieval, não o tiro.
Voltando... sabe, acho que o que vocês precisam é de resto, vocês merecem o fragmento.
A festa dança:
'Agora eu já sei, que coragem é preciso para se chegar... e se levar adiante.'
Matei todos, continua a festa.

(Giovane Oliveira e Eliane Rubim)

:: habitante de mim 6:57 PM
...

há línguas
na gagueira?
que palavras não
criam em sair?

não... eram outros encontros

(Giovane Oliveira e Eliane Rubim)

:: habitante de mim 6:29 PM

experimento-poema I
(Giovane Oliveira e Eliane Rubim)

logo a terra
significará
cabeça gira
há um mundo ao redor

(silêncio)
vão estrutura
pausa na estrutura
pau na estrutura
rompe
no trair
ruiu as paredes
o castelo caiu

depois (não agora)
tudo vai se levar

II

nada abaixo?
Hey!
insurgência branca
(branda?)

isso irá virar feitiço
um motivo
de não armar

:: habitante de mim 6:23 PM...

Partido

virou em giros
e agora chove

nas camadas
(como se branco fosse puro)
entoadas de decomosição
surgiu um som
parecido com lamento
e gozo

é, sinto que doia
moderna ritmia
é mentira
o sol é elo entre o silêncio e o ruído
(um dia chamou-se isso de música)
e hoje chove
meia luz
as gotas...
é sede de sentido

já se deu metade

:: habitante de mim 1:50 PM
...

para quem fala e não escuta

gritei aos teus pensamentos
para que quebrasse esse sei o que
de intuito além de ti, num
dualismo
mão seio caralho
mato as metáforas
estúpidas não cabem

falta espaço
falta tempo
falta
tudo suprido
vinguei o lirismo

saturno diz sim
eu sopro música

:: habitante de mim 1:41 PM
...
:: Segunda-feira, Novembro 06, 2006 ::

Três Sóis

e que encontro em vista nova
de olarias resonorizadas?

Ainda não encostei a cabeça em braços neutros
e não vi a lua como quisera

Angustia-me (espera) a noite sola
que por vezes
sempre esteve.

:: Quarta-feira, Outubro 04, 2006 ::

Lada de flores

a pele dura
sem cortes

os lábios murchos da espera
por tocar o que não se pode ter.

:: habitante de mim 5:41 PM
...

Piloto automático

trabalha como pecado
em vôo alto
conveniente homem-solitário

(tudo questão de maturidade)

E o que envelhece nesse grito
são as horas
amoralizadas pelo vazio

amassa e suja nesse chão
parece afirmar com fraqueza

não há saídas.

:: habitante de mim 5:37 PM
...
Falta culpa

o grafite é para os feitiços
que não querem a eternidade
da escuridão postada
(em tinta negra)

células dificultosas
o corpo não comunica
agora rasga a pele de outrem
só mais um dia.
:: habitante de mim 5:27 PM
...
:: Segunda-feira, Outubro 02, 2006 :: Duas... estou um pouco perturbada... não dá pra crer que se desrespeite a dor de tal forma...


(Radiohead)

Dollars and Cents

There are things to talk about
Be constructive

There are weapons, we can use
Be constructive
With your blues

Even when they tore the wall down
Even when they tore the wall down

Why don't you quiet down?
Why won't you quiet down?
Why don't you quiet down?
Why won't you quiet down?

We are the dollar and cents



Motion Picture Soundtrack

Red wine and sleeping pills
Help me get back to your arms
Cheap sex and sad films
Help me get where I belong

I think you're crazy, maybe
I think you're crazy, maybe

Stop sending letters
Letters always get burned
It's not like the movies
They fed us on little white lies

I think you're crazy, maybe
I think you're crazy, maybe

I will see you in the next life

:: Quarta-feira, Setembro 13, 2006 ::

Mandrágora

escrevia em minha pele
e não tinha rimas
eu sabia que era poesia
pois acreditava no que me dizia

Sabe, acredito na palavra dita
acredito que os olhos seus não dizem nada além do meu reflexo
e sei
que felicidade é só um conceito abstrato e publicitário.

"é terrível" - prosseguiu
"a tua pele é tão sensível a luz
e os meios não radiam
apenas anestesiam em dor
o que me acostumei a ter como impotência"

Eu disse sim
o que mais poderia ser?
E transamos como dois estranhos
e depois dormi.
São seqüências alheias, o olho do outro
nunca me é real.
Escapei de tudo
só não escapei de mim.

:: habitante de mim 5:07 PM

Bem, você sabe, o melhor é dizer tudo que pensa, e depois esquecer

Quisera eu estar louca
o que se passa é um oscilante desmanche de nódulos
que retornam a se emaranhar
(em meus dedos
que não são frágeis)

Dei socos nas paredes e em Deus
e ninguém cuspiu-me à face
como volta
Foi que então desci as escadas
e assisti raivosa a simpatia.
Ninguém viu
ninguém me insultou
apenas sorriam

O mundo se considera meu íntimo
por isso não me bate
e já nem responde minhas blasfêmias.
O que dizer para uma estrangeira
que soma os sins e nãos
tão velozmente quanto uma calculadora de favores
que foram, são e serão
importantes e determinantes
em tal (e qual?) momento crucial em uma vida limpa?

Então repito:
FODA-SE!
Tenho a boceta gasta de tanta saliva podre
e nenhuma vida limpa me orgulha.
Os lábios fervem
Eu beijo bem mais que palavras
e sonambulismo gratuito.
Sou quase-poente
Mas que venha o soco
eu não me oponho.

:: habitante de mim 5:02 PM
...

Horas Rubras
(à flor tão bela que espanca)

Depois que a noite leva seus segredos
(tão dolorosos a serem revelados)
os corações tendem a ficar leves.
E tudo que for dito, mesmo que nada
será verdadeiro.

Ah! como é bom se ver livre de tantas máscaras
e mesmo assim serenar confusa.
A pele cansou de ser outrem
além de ser pele mesma
E de longe (às vezes perto) avista-se uma Musa pequena
afirmando que aos buracos foi dado o canto
e a luz, que antes cegava
agora corrompe e se faz presente.

O resto, constante, culmina os sonhos
que chegam tarde
Despertar nem sempre é doloroso
onde vida é transa de sentir e sonho
E mesmo assim serenar confusa, e chorar.

:: habitante de mim 5:02 PM
...

A ser escrito

em sua distancia anos-luz do amor à pandora
disseste que os sábios não sabem viver

São tolos, estúpidos!
para que tantos sustentáculos?
se com tantos passares
não conheci levezas precisas
à espera do momento exato

Pouco conheço do teu coração
Mas com uma rapidez inaudível
descrevo todas (tuas) patologias
relacionadas ao ego malamado.

Então suspiro:
-durma sereno essa noite
e não espere luzes no despertar
estarei indiferente ao teu lado.

:: habitante de mim 5:01 PM
...
:: Quarta-feira, Setembro 06, 2006 ::

Batom da mãe

Todo sangue que considerava
proteger os espelhos
enforcara-se frente a meus olhos.
São quatros horas
e as meninas-dos-olhos exilaram-se
na loucura
e na solidão.

As salas vazias
a nudez da rua
o vento vertiginoso
que não passa.

As bolhas estouraram
embaixo da chuva
e meu corpo estranha
essa outra em mim, agora.

:: habitante de mim 7:49 PM
...
:: Sábado, Setembro 02, 2006 ::

Buraco Negro

aproximou-se a mim
rindo com seus falsos dentes brancos
e quando fechei os olhos
toquei os lábios frios de um fantasma


meu peito ficou gigante
negro de medo e coragem
eu lambi seus dentes
caí em segredos.

:: Segunda-feira, Agosto 14, 2006 ::

Movimento-leveza-poesia-beleza

na quietude do andar
e deixar
que as coisas rumem ao seu lugar

As raízes poídas
os dias de mormaço doce
Tudo lembrou sereno
Retornaram para casa
e descobriram que essa repetição infinita
se deixa estar... e é

Somente lua, nudez monstruosa de devaneios distantes
Foi assim que tudo se aquietou
em solitude
E as regras do som trovejaram
ainda é quente
A pele respira
Poesia branda e leve

O amor ganhou movimento
perdeu-se em forma
as pessoas tornaram-se belas
as vidas, promessas...
:: habitante de mim 2:44 PM

Metal Heart
(Cat Power)

Losing the star without a sky
Losing the reasons why
You're losing the calling that you've been faking
And i'm not kidding

It's damned if you don't and it's damned if you do
Be true 'cause they'll lock you up in a sad sad zoo
Oh hidy hidy hidy what cha tryin to prove
By hidy hidy hiding you're not worth a thing

Sew your fortunes on a string
And hold them up to light
Blue smoke will take
A very violent flight
And you will be changed
And everything
And you will be in a very sad sad zoo.

I once was lost but now i'm found was blind
But now I see you
How selfish of you to believe in the meaning of all the bad dreaming

Metal heart you're not hiding
Metal heart you're not worth a thing

Metal heart you're not hiding
Metal heart you're not worth a thing

:: habitante de mim 2:34 PM
...
:: Quinta-feira, Agosto 10, 2006 ::

(sem título)

um amor que esteja livre
e doa
para que demasiada luz
justifique os moveres expoentes
Eu danço
e espero tua entrega
(vamos rir, é o que resta...)
:: habitante de mim 9:42 PM
...
As Aparências Enganam
Elis Regina
Composição: Sérgio Natureza/Tunai


As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver
As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele
Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar
Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor
As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno
Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali
Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera
No insistente perfume de alguma coisa chamada amor.


:: habitante de mim 9:38 PM
...

Clandestino em mim

me tenta
em demasia
a possibilidade de trair.

Essa será a maior
(mesmo que só)
pois vou além
do trair o esperar de outréns
vou me trair
ME TRAIR

Trair meu cansaço
trair minhas justificativas
e fugir...

para outros braços, outros sonhos
que se mantém.


:: habitante de mim 2:39 PM
...
:: Sexta-feira, Agosto 04, 2006 ::

Candelábro

Nas contas que notificaste como segredos
brilhavam mais do que cem noites ao sono antigo

A espuma luzia
e tudo era tão negro em nossa volta
que pouco de mim
compreendia

nunca mais
(depois desse dia)
alvoreceu
E nossos braços me pareceram mais confortáveis
E a lua desistia de ser um sorriso bobo

Acho que nunca mais voltei pra mim.

:: Segunda-feira, Julho 24, 2006 ::

O lar

Teus pêlos respiram
é um cheiro de nuvem roxa
temperado com alecrim.

Eu suaviso o entrar
num poro fugitivo
Traidor da nossa história
que se queimou.
Só assim podemos dançar
nos lados do corredor
assim de costas
ler teus lamentos.

"Eu não tenho casa pra ir" - você diz
Eu silencio fechando os olhos
E te convido para irmos sós.


:: habitante de mim 4:31 PM
...

Futuro do pretérito

é quando bate
a falta de compasso
que sinto o vazio da estrada
os fados que simbolizam algo
bem próximo de nada

Sabe... eu não sinto
esgotou a água, a esperança, a lua
quando em vez acredito que tudo
não passa de sonhos
quando em vez

Não dói, apenas não sinto
faz falta
quando o tenro dos meus olhos
esculpia vida em qualquer...
mas isso é memória
e não é preciso lembrar, logo agora

A música tem ecos
a casa está enorme
as paredes extensas.

Uma folha amarela
sem palavras
Não nos comunicamos nesse além espaço
Eu não converso ao teu lado
não falo sobre fantasmas
e inimigos ocultos para combater

acabaram-se os segredos
e falta vontade para mentir.


:: habitante de mim 4:31 PM
...
:: Sábado, Julho 15, 2006 ::

Coragem

Vamos ver
Perto do vento os risos são mais altos
(para quem ouve)
Corro pros montes
Serei primeira

:: habitante de mim 2:27 PM
...

Nos teus olhares, não mais que engano

Os corações se arruinaram
Ficou frio
O que fazer?
Ela se cobre em mantos
Cheiro de choro, de gozo, de sonho.

:: habitante de mim 1:55 PM
...
:: Quarta-feira, Julho 12, 2006 ::

montanha russa

de quantos temores oscila a vida?
(nada disso, é outro dia)
No momento em que apresentastes o sopro
compreendi que já não eramos os mesmos
Eu precisei dos sóis que ficaram guardados
e precisei de ti.

Eu já fiquei bem longe
eu me lembro
já entendi que trair não diz nada à essas paredes
E cometi o pior dos enganos.
Nada refiz
o peito brando não repetiu os suspiros
Curei-me da asma
os cheiros não estão limpos

Toco os muros, as grades
minha palma se corta
em dois temores
eu sempre os vejo
e os nego.
:: habitante de mim 7:44 PM
...
:: Quarta-feira, Julho 05, 2006 ::

Para todas as dores: cores!

pensava em pastilhas
não dormir pequena
abri os passos
o sereno me fez rir
e tudo agitou-se pra fora de mim




i'm tired
go to sleep


Acho que faltava o descanso. Sinto-me muito bem agora, viva. Resistir, me fez reafirmar a beleza. O sono e os amigos me propiciaram o descanso. Sinto-me bem agora. Brotou um otimismo com o respirar.
:: habitante de mim 9:57 AM
:: Segunda-feira, Julho 03, 2006 ::

Minha culpa

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

Florbela Espanca


:: habitante de mim 6:21 PM
...

Como se fosse pó

a fragilidade não é minha
nem que pudesse
por dentro da pele
já estou seca

:: habitante de mim 5:36 PM
...

Eu não costumo usar esse blog pra desabafo, na verdade se fiz isso foi no máximo umas duas vezes, bem no início, mas o fato que hoje não dá... cansei, e só gostaria de informar.
Cansei dessa vida que parece se repetir a cada hora que passa, cansei dessas paredes, cansei dessas leis, cansei do meu esquecimento, cansei das minhas lembranças.
To puta!!!!!! Muuuuuuuuuiiiiiito puta!
E têm culpados? É claro que não, nunca tem!
A culpa é de quem trai o contrato!!! Ou seja, a culpa é minha!!!!

O pior é que me dá aquela sensação de não poder recorrer à nada, nem a ninguém, e isso é foda. I want go home. E eu não a tenho.

:: Sexta-feira, Junho 30, 2006 ::

Pedra Coral

Criei uma voz
para que essa pele não me resgate mais.

Fui ao encontro de velhos estranhos
e erramos a contra-dança.
São outros olhos
para que essa pele não me persiga mais.

(mergulhei raso
e cortei minhas mãos em limbo)

:: habitante de mim 5:36 PM

... :: Domingo, Junho 25, 2006 ::

Condizente

Aquela hora do dia
era raiar de luz
e caía

Mas que bobagem, não é?
um som assim
que não me canta mandarins!

Ah! pouco se sabe
eu via os vidros cortados
e esquecia que o vento é feitiço de mim


:: habitante de mim 8:10 PM
:: Quinta-feira, Junho 22, 2006 ::

Soa noite

me proibiram uma vida
quem disse que me importo?
eu salto e quebro teu muro
(tua cara também se não me fores estranha)
eu salto longe de tudo

Mas não
eu já me cansei
Fico cansada
e sem sono noturno

:: habitante de mim 8:48 PM...
:: Quarta-feira, Junho 14, 2006 ::

Tracei-o apagado (ou desenredando estrelas)

me tentei clara
e fiquei suja

não entendo bem
o que acontece
não me entendo bem
pouco falo
muito rijo

abro os lábios
só consigo sugar
uma seiva tua
sem letras
certa e nua

crio um idioma
minha língua fora
enconstada
(na) sua

molhada, azeda
qual gosto
em diversos
é o primeiro?

"- Soprejo
desejo."
disse o Nário
e tudo fez sentido.


pós-poema

diante tantas, diversas identidades, eu me perco em mim. Eu sou o que afinal? A romântica, a ousada, a passiva? Eu me identifico com alguma dessas apaixonantes dviersidades?
Não sei bem, o que me afetou essa manhã. Pode ter sido o cinzado céu, ou a ausência de me tocar pela pele d'outro, ou a presença de identidades, ou a vontade de calar e não calar, ou ainda uma frustração que inventei.
Ou tudo ou nada disso.


:: habitante de mim 6:54 PM
...

Samba do desapego

Podia ter trocado a roupa
ter ficado bonita
Mas você não quis
Nem sequer me convidou

Sair, olhar os vidros limpos
Dançar próximo ao chafariz

Você não quis
eu não disse nada
lhe pareceria infantil e imaturo.
Eu quem não quis.


:: habitante de mim 6:44 PM
...

Lentes de Contato

Ordinária, deusas que se vê todo dia
e já não se quer mais
Descartável
hoje é dia longo para estar.

Fiques longe de mim
talvez eu ainda te dê algum
aceno
e provar o quanto não te perturbo
(se não quiseres),
o quanto sou mudo
e finjo que não sinto.

Não vou sofrer
não me cabe
Não vou chorar
poucos sabem.

Desse mundo autista que construi
desse gozo doído que pouco ri
Eu vi
é dia longo para estar.

:: habitante de mim 6:40 PM
...
:: Segunda-feira, Junho 05, 2006 ::

Superfície

para que estancas
o suor que corre das tuas mãos?
Da escrita nascem chagas
repetitivas, ultrapassadas.
:: habitante de mim 5:44 PM
...
:: Quinta-feira, Junho 01, 2006 :: Leviano

Para que esse sol
transforme-se algo em criativo
Para quê?

Daqui a algumas horas passadas
estaremos mais mortos
(mais mortos que vivos
sonhando, sonhando)
sabe... eu não temo a minha morte
mas a morte de quem amo
a morte memorial

mate essas vidas
desprenda-se
vamos voar!
o peso de cair
é mentira

tudo que dizem ser realidade
é poesia pros teus olhos negros

é poesia
respirar meio a soluços inquietos

o amor nasce para ser destruido
o óbvio, reiventado

sombra, cor, luz
me esgoto
pra isso estamos aqui
Ser corpo
gozar o sentir



(Feliz aniversário meu caro Panda!)

:: Quinta-feira, Maio 18, 2006 ::

Sonho Bom

agora que dói
solto amarelos pelo corpo inteiro
daí furo
pra não ser um artifício.

Alguém acenou negro
fugi de dentro de mim
não dá pra voltar.
Não dá pra voltar

quebrado
alguns pedaços de muro
algumas flores
nenhum sussurro

não coube
a bela máscara borrou
minha chuva
gigante dos pesadelos de maio.

Cabeça baixa de olhos
semi-sensíveis
assim é melhor.
(para que um norte?
não agora)
agora dói
desenterrando dores
e medos também.

A vida lama
era como o amor
que sujou
e não esqueço.

:: habitante de mim 8:33 PM


... :: Sexta-feira, Maio 12, 2006 ::

quando bateres na porta

arranca esses teus hinos fora
e lança esse móveis empoeirados pela janela
que morram um ou três!
não me importa
não me interessa tantos fardos
tantos escombros

quando bateres na minha porta
vens limpo
(nu, de preferência)
mata tua mãe
esses porcos facistas
que dormem em panos macios
vens cru

tantos escombros
mudei de idéia
me deixe só.



:: habitante de mim 7:39 PM
...
:: Quarta-feira, Maio 03, 2006 ::

Para uma canção amena

Jogado em grama seca
Desviado
E no fundo de si mesmo

Terra roxa por água salobra
Por uma vida mais barrenta

Um pequeno e um gigante molde
Prum corpo que jaz
improvisar
com tinta branca
cor de limpo
(há o cheiro!)
É frio... me gripo.

Pronto o desenho sem preencher
Que ele fique ali
Só o lodo se lembra.

:: habitante de mim 7:50 PM
...

Terceiro poema

Mostre o que guarda aí dentro
Oh, é tão pequeno...
Quase escuro ¿ não posso ver.

Mostre suas coisas novas
que tanto amo rever
Caindo aos pedaços
(aos giros, não posso descer.)
sobrando pelas beiras
breve e rasteira

inventei um som paras estrelas
só faltou um som para o vazio
(penso no silêncio)

:: habitante de mim 7:49 PM

O primeiro jogo

Peguei na sua mão
Era um estranho
Ficou surpreso, depois me olhou
Não se desfez do enlaço
E seguiu em frente, me puxando

Senti vontade de rir
Mas fiquei atenta
Andamos por uma cidade fantasma
Tocava em meus cabelos, alegre pela sensação de descabelamento
E todo tempo olhávamos o céu
E quando o olho piscava
descansava para o vento.

Ele subiu em uma plataforma
Foi voar
Soltei sua mão
Não almejo tanto.

:: habitante de mim 7:40 PM

Assistir o movimento provoca vertigens

Eu tenho muito medo do que me reserva
Hoje é dia de vento denso
Os lábios
E a vida em chamas
O mundo é um show de mágica
Há degraus em toda parte
É subir ou subir

Pulei

E não vou deixar que tu te vás
(sempre mais)
Tudo tão bagunçado
Quero gritar e me calo

Batem...
Só abro se for você
pedindo pra ficar
Eu tenho arrepios ao pensar no que não resta.
Prometi...
então seguirei atravessando ruas

guardei no vácuo teus cabelos
e os carrego dentro dessa bolsa.
É só pr'eu não me sentir só, perto de tanta gente.
É só um pretexto...

:: Quarta-feira, Abril 19, 2006 ::

Bolha de Cristal

Colocou My Blood Valentine, e procurou não se achar. As luzes, todas, eram noite. Estava só e feliz. As pessoas, objetos decorativos, e ela uma voyeur em êxtase. Sim, foi engraçado cruzar por ela. Ela sorria, como quem se deixa tocar pela chuva.
A vida não é distante. E em qualquer rua que andasse, era lá, seu lugar. Seu lugar era o andar. Já não queria que os dias fossem feios. Toda a falta de sentido lhe fazia bem, lhe fazia belo. Retornou no fim da luz, ruas e olhar diferentes. Então o pior aconteceu.
Um colega de trabalho a reconheceu. É difícil vagar perto de casa. Não satisfeito em reconhece-la, parou para conversar.
A guitarra calou hesitante. 'olá, eu vou bem -sim, é bom caminhar. - (longa pausa - ele falava sobre o trabalho). Pois é... - até mais, preciso ir, se não perco a sessão - claro..., só não sei se é teu tipo de filme.' Foram os dois, assistir qualquer mentira.
Não chegou ser desconfortável. Ela não queria que fosse feio, mas lhe fazia falta o My Blood Valentine. Encurtou a conversa com sinceridade branda. Não queria ouvir preconceitos. Ele estimou sua companhia, 'podemos fazer isso mais vezes', e despediu-se melancólico.
A pilha enfraquecera, não tinha importância, ela tinha mentalmente os acordes que lhe confortavam. Ela veio pra casa bem devagar. Aos poucos recuperou a humanidade, sentia fome, comprou qualquer veneno. Não perdeu o sorriso, chegou a sentir vontade de ver seu colega novamente. Não queria se sentir invadida, afinal não fora. Foi apenas um encontro no meio de seu desencontro, e este, ainda estava lá.

:: habitante de mim 6:48 PM
...

Dicotomia

Sim, o avesso do mundo. Ele se declarou à vizinha, após descobrir-se avesso do mundo. E por que não? Contido e sonhador, isso não era ele na verdade. Bateu de leve, achou melhor apertar a campainha. Houve um abraço, um convite para entrar. Ela é expansiva, mas só como ele via, afinal mais um reflexo, sabia que existia um avesso em tudo isso. Ele não se demorou, foi direto. A pediu em namoro, e disse que gostaria muito de construir uma história ao seu lado... blábláblá. Essas coisas que teoricamente funcionam. O burro esqueceu do avesso. Ela tinha um; desculpou-se dizendo que era lésbica, e que seria ótimo construir uma amizade.
Ora, como se percebe isso nas pessoas? O avesso. As entranhas não se mostram, pra isso existem os espelhos. Ele não tinha espelhos, pensava que se ver nas pessoas bastava. Continuaram a conversar, ela lhe emprestou discos e filmes. No elevador pensou que diferença fez, ele descobrir-se avesso do mundo? Andou com estranheza na rua, foi à loja ao lado e comprou um espelho enorme. Colocou ao lado da porta da rua, 'ver-se parado é não se ver', escreveu com lápis carvão na moldura do espelho. Os dias se passaram e ele colocou um suporte para um bloco de notas ao lado do espelho, assim fazia capturas de suas impressões diárias. Morreu no sétimo dia.
Na última folha, havia a seguinte anotação: 'Há tanto gás que se mexe novembro, e não se mostram, era pr¿eu quebrar a mentira junto com o reflexo, mas eu sinto, vou acreditar nas entranhas. Distantes, não são impossíveis de tocar. Não consigo garimpar as imagens, e delas resgatar minha identidade. Hoje não sei qual o avesso de vida.'
Algum anjo em descuido, pensando que aquilo fosse prece, soprou amém.

:: habitante de mim 6:47 PM

Ao meio

o céu era tão negro que pouco me via estava de costas para a lua qual me imitava em caricatura nas sombras era só e triste estava reconfortada o imenso que não via o sopro que me consolava

tão negro como os sonhos e devia ser sina de ventre seco pousada em lama podre eu já me sentia e o tudo demonstrava latente o interesse pelo meu silêncio

bastava que eu continuasse daquele jeito e eu já não me teria entregue e consciente


quantas faces já me mostraste és tantas que te rebatizaria para não ter que chamar do mesmo nome mesmo mesmo eu tinha que mudar mas como farei isso se segues despindo máscaras que não me permitem votar

esperei demais pela tua compreensão e do que aprendi contigo não suporto mais estou seca me deixes aqui pó não oro em vão invoco o vento me perco germino ciclos inconsciente do doer solidão

:: habitante de mim 6:40 PM
...

Projeto

E ficou olhando pela minha janela
Absurda a forma como me via tão transparente e exposta
Absurdo como nunca assumimos viver juntos

Sentia em minhas frases dependuradas
Tudo o que eu realmente queria ser:
Alguém laranja de olhar triste e sereno.

Minto que não é pela falta que escrevo isso
Mas não sei
Talvez não seja esse o caminho
Ainda guardo riscos de fé
Riscos de sorrisos
Em um lugar que não está aqui
Eu o escondi bem para quando eu quisesse fugir

Hoje sou eu quem olha por essa janela
Ar lento
desatento
Essa calma, é invenção
Ver, já não cabe em mim.

:: habitante de mim 6:34 PM
...

Eu li um livro chamado Consuelo

Estava escrito:
'Quando à tardinha
Eu mentia pondo-me em sol
Algo miudamente grande
Me ocorria:
Eu morria
E não me via
Tonta e corrente
Lá em baixo.
Eu já sabia
E ficava calada até a noite
Que era onde eu nascia.'

Consolou-me tentar
É difícil ver sentido.

:: habitante de mim 6:29 PM
...

Útil é negar

Está tudo bem
Somos uma espécie de caos
E já foi descoberta essa vantagem

Sinceridade
Não é mais preciso cobrar tanto de nada
Sei lá... apenas respire alguns instantes
As clavículas já estão expostas à sorte
Não basta ser bom,
A luz tem de jogar para que haja cor

Relembre os mortos, às vezes
Para não se cansar
Homenageie os vivos de perto
E cuspa quando a náusea for última
Não basta ter dom, tão pouco dó
O riso tem que rasgar a pureza

A vantagem em ser caos
É descobrir-se em desvantagem

:: habitante de mim 6:27 PM
...

nu como jornais

pedaços do outono
em seu longo
longo
adormecer

os pés descalços
os livros cerrados
(há tanto para se crer)

em seu divã preparado
à sombra da inquieta tarde
ergue os braços
árvore

as cores desbotadas
para amaciar a sensibilidade
tempo que é bem perto
eu me encantei com as pedras roxas do caminho
tempo íntimo
há flores desistindo do céu.

:: habitante de mim 6:26 PM
...

Favor setorial

solicitei
em teu sagrado
ser
repleto de ter
algo que tivesse teu cheiro
tua letra

vi a calculadora

risível, não?
(00000000000000000)
já não crescia
aditivava
nem menos nem mais
pior ainda o compartilhar
só dor copulando e multiplicando
como irmãos incestuosos
siameses
bestas sem nomes

POUCO COMPORTA
não sou outra vítima
não prov(oqu)ei incêndios com tuas cartas
até ria de mim
quando só

não tenho mais...
restaram os zeros cotidianos
os zeros nascentes,
tudo que tinha
(toquei, pensando ter)
virou pedra
o tempo as levou em pó.
eu corri pra longe daqui
querendo ser
longe de te ter embrutecido.

:: habitante de mim 6:25 PM
:: Domingo, Abril 16, 2006 ::
Desenho em lápis de cor

era campo,
com fantasma
de muito tempo atrás
bem antigo, verdade
não condiz comigo

não o espaço
mas o fantasma
já ando ao seu lado, em paz
o tempo faz isso, às vezes

:: habitante de mim 7:06 PM
...
:: Terça-feira, Abril 04, 2006 ::

Despertar

Temo e lamento
Acabou o que diziam sobre nós

Esse caminho ficou velho e sem gosto
O que creio ganhou ritmo novo
Tenho medo de Ter medo
Mas o tenho, ainda
Andar tornou-se repetitivo nesse globo gigante

Andar tornou-se próximo
Tocar outra pele
Supor totalmente errado
O sonho ainda vem
Objeto calado

Acabou o que se dizia em silêncio
Pertence ao lixo, à curiosidade do vento
Livre dessa poeira
Já basta esse barro!
Basta dessa esperança desbotada em lágrimas!
Já re-usei o que podia dos dias passados
Já cantei para a chegada de outras memórias
Abro os olhos.

:: habitante de mim 2:42 PM

Seguindo o teu choro, também chorei

Ela não chama mais por você
Me parece um outro nome próximo do teu
Mas quanto a isso já não se pode afirmar certeza

Dia desses segui ela pra você
Ela cheirava bem, caminhava elegante
Parecia mais forte
Alguns calos no olhar

Propositadamente ela não me reconheceu
Segurou forte a mão de seu novo homem
E sorriu de uma forma maldosa e orgulhosa.
Ela ainda gosta de ferir

Ela andou um pouco mais para longe
Voltei pensando em como te contar.

:: Quinta-feira, Março 30, 2006 ::

Se chegar

Quem sabe as oito pedras no caminho
acabem por remoer-se em pó?
E que alguém testemunhe,
pratique inexperiências sensoriais,
fique louco e rico de paixão

Já se foram as janelas
não estão mais quebradas
sem o vento sereno da noite
As pessoas dormem
E não sonambulam para os braços
dormentes da quietude
(não da rua vazia, mas
dos nossos quatro membros envoltos)

Eu não verei
é bem verdade
já passo as noites a dormir
Vá e me conte
Inverno desses volto a lhe ver
inexistente.

:: habitante de mim 4:12 PM
...

Assobio

Rasgado ficaram os dias em que o sol
Comeu todas desritmias
Parado, quebrado em pausas ligeiras
De uma tarde inteira

Abria, rompia o quente e frio
Fechava a desnecessária geladeira
P'ra que tantas garrafas vazias de álcool?
- Vim limpar tua vida, cadê tuas tias? Tuas filhas, e os cristais?
Um idiota completo
Acompanhado pela espaçosa solidão
É de não se sentir dó
Tentava escrever algumas linhas
O telefone cobrando cortava os pensamentos

Ótimo que ninguém se importe
Eu, apenas limpo

:: habitante de mim 4:12 PM
...

Estella

Para que teu corpo tenso
relaxasse longe de qualquer máscara
crua e fixa
Não és mais tua
Nem nua

eu precisei
Juro, precisei
sentir-me tocada por uma pele que fosse nua
Mas não era tua
Estava tensa, sempre
Em qual ângulo, em qual toque
Às estrelas fiz prece
errada, não me disseram nada

Estella, eu te amo
Tão parasita e mentirosa
Eu te amo

Para que o sopro
Mataste em dois teu ser
Corpo e ator
Intenso
foi esse último beijo
Por mim, te comeria em pedaços
mas nem ao menos morta
te despes pra mim.

:: habitante de mim 4:10 PM ...

:: Quarta-feira, Março 08, 2006 ::

Quase começo

a verdade é seu gosto
torto em rosa desabotoado

para que fosse um toque
tão menos impensado
suave
a verdade teme dezembro
estou bem perto
desse quase-tempo
recostado em lamento

seu gosto
meu segredo

:: Quarta-feira, Janeiro 18, 2006 ::

Sopro

sobrevi teu canto em sutileza
estava cinza
e sopravas sem querer desiquilibrar

às vezes morno, outras morto
Acaba tudo por ser pó.

:: habitante de mim 12:17 AM
...

árvore geneológica

preserva-se tão inquieto
por mais que o espanque
por mais que o amedronte
sempre fugindo da minha dor

esses dedos tão reincarnados de genes passados
esse mal olhar das vigias noturnas
assim que pronuncio o tempo
ele se repete

voltei a andar descalça, lembrar o mar e sua beira
fiquei com meu balanço autista
cantarolei sonhos ao mundo

Falta ar para me articular
preservo-o tão inquieto
às vezes sim, outras não
sempre belo.

eu que voltei a ver
os vôos distantes...
respostas prontas
pra tudo
exceto pra mim.

:: habitante de mim 12:14 AM
...
:: Terça-feira, Janeiro 17, 2006 ::

No fim

se me prender
a esse som
tão pingado
à mercê de esperanças sangradas,
uma chuva tão gélida
virá em momentos largos

fiquei cansada
Deitei-me
e tapei os olhos do céu

tanto escorria do fim
reverso às olheiras de negra prece
estendi-me em pÊlos
fiquei suja
em àgua pura
queria me lavar
(já não podia)

Correu
para só, então, aquietar
Não precisei prever
eu era calma
Considerava a graça entristecida
Ainda sou melancólica
com uma pele que não gela

:: habitante de mim 3:03 PM
...
:: Sábado, Janeiro 14, 2006 ::

-transforme nossa conversa em poesia
-transformo

(ao rever sugerido por Vagner)


Ela fechou os olhos

precisei da tua mão
não foi tua culpa

estavas oscilando
longe de qualquer postura

e a poesia?
não soubeste dizer porquê
algo sujo aconteceu aos óculos

"as coisas são, como elas são"
ver exatamente, não faz bem aos poetas

Quem sabe a sujeira não te ajude n'outro olhar?
Tenho medo de perder o outro.
por mais que sejam dois, até mesmo três.

Olhou, e disseste rindo que a sujeira coberta
era arranhão de asfalto e limbo.

Essa mistura é um pouco forte
é normal que isso te mude.
Era sombra quando
algo no olhar rompeu sinuoso.

Deixa o olhar escuro.

Talvez dormir
ou simples não ver.
Traz p'ra perto o que não consegues ver
e toca.
"De olhos fechados tudo parece próximo"

é mentira... mas é bonito.

:: habitante de mim 2:15 AM
...
:: Segunda-feira, Janeiro 09, 2006 ::

Alguma Fotografias

- sobre a mesa

Algo digitaliza esse passar. É paz. Estavam esperantes. Já tinham luz, faltavam-lhe o negro. Permaneci muito tempo sem as tocar, apenas oculando o reflexo da luz.

Pensei o quanto seria bom possuir uma câmera, fotografar esse ar belo. Mas fotografias não captam a respiração dos objetos, tão pouco o bafo luminoso. Fotografias desfocam o não estar.

E ninguém estava. Era o café da manhã. Pus a mesa para dois. Um chá de camomila acalmou-se esfriando em espera.

Bebi um café. Uma paisagem sem uma garrafa (minúscula que fosse) de vodka.

O xadrez da toalha, colocou um dos farelos em enigma. Para onde mover essas (minhas) migalhas?

'Apenas um café', consolou-me a luz. É mais um. Amanhã será um chá. Hortelã.

:: habitante de mim 9:57 AM

:: Quinta-feira, Janeiro 05, 2006 ::

The Ghosts You Draw On My Back
(Múm)

The wind plays flute
Through the cellar door
And on my window sill
Plays a sad old song
I hope tonight
You will touch my hair
And draw ghosts on my back

Walk the shore
Too impassable
Shout at screaming waves
Shout at silent rocks
I think tonight
I'll dream of salty tongues
So tears drip down my legs

The wind plays song
Through the cellar door
And on my window sill
Plays a sad old song
I hope tonight
You will touch my hair
And draw ghosts on my back


:: habitante de mim 9:54 AM

Apanhador de pássaros

Qual foi teu intuito
ao desenhar estrelas em meus pés?
O céu ficou quente
deixou tenso o andar
Tenso e inchado

formando bolhas das pontas
eu não tinha sombra

Desenhaste fantasmas em minhas costas
Como vou me livrar de ti?
e de todo resto que passou?

Procurei ajuda na noite
senti o peso dos ombros

Abstraiu tintas em minhas pernas
Sou derme-tua
das mensagens
que não ouso decifrar

:: Sexta-feira, Dezembro 23, 2005 ::

Assim que cansa

catei os pêlos
suados do entardecer.
"douraram!"
já me arrependi de ter calado

No céu-ouro
relembro aquilo
doce
ou frustrado.
Os dois não agüento.
Me retiro etílico

escrevo cartas.
Não as envio.

Penso na distância.
Não é tão longe para se andar.

:: habitante de mim 11:58 PM
...

Torto

fui lá
tirei a pele
e mostrei o que ele já via.
E do que adiantou o medo
Massagear os seios
no seu pensar doído.
Verdade que dói mais
mas está dito.
Me culpou de não saber o que quero
Melhor saber do que não quero
Não quero mais ser tua parte
nem segunda, nem última.
Serei peso (inteiro)
no amor de outrem.
Eu te amo
seja feliz e se exploda.

:: habitante de mim 11:53 PM
...
:: Sexta-feira, Dezembro 09, 2005 ::

Terceiro olho

(ele viu demais
agora vive de
limpar os olhos)
um caroço
têneu sobre-pousa
um olho
de cada vez

poupando
o que assombra de raro

no andar
já não me canso
no andar
por aqui, já é passado

outro olho
outra vez
esquerdo
piso de brincadeira
(é escorregadio)
há um fio cortado
um de dois
é meio errado.

:: Domingo, Novembro 06, 2005 ::

Na palma da mão

redoma surpresa
dos títulos mágicos do oriente
gritando por uma identidade
que é tão quieto em seu ruído
É o belo que renova
o ar que seca as árvores
o limo das pedras-musgo.

Sapatos claros em inverso
quente
Sorrisos brandos
maquiados de pele
Eu temi a Bela máscara
já que depois dela o rosto se fez
inconstante.

:: Terça-feira, Outubro 11, 2005 ::

Quando findar... desejo

I - Ainda Cedo

e se a vida se permitisse
tocar?
Eu já não estaria
Alguém faria os versos
e prepararia a casa

Fiz toda questão
de quebrar os bibelôs
Serviam apenas para o pó
Assim como as vistas postais
que me angustiam num
sorriso de me ver só

às vezes temo me tocar
com essa imagem
me fitando

e mesmo o laranja
que é só crepúsculo
acaba
me deitei nas fotografias do céu
limpei olhos e comecei
ver além
de cá dentro
o barulho de fora não é mais silêncio
é raio de sol belo
que reluz melancolia

Judiei da noite
Agora me castiga o dia
esse dia
me ensina esperar
sem tempo.
Me convida para um passeio
É primavera
e só quero a seiva doce
perfumada em teu seio.


II - Ainda Medo

aresta quieta
dessa noite mal-agrada
Me compete sussurrar aos montes
(quais nortes?)
o que não cabe.

Sendo os calos
repetição de dor.
Calmaria resta
no entediar de promessas.

Nossas mulheres
de sangue forte
já nascem mortas.
Insistem disfarçar superioridade
Putas sem dono
tão cúmplices
Mães dessa falta de palavras

originais, originadas
d'um ventre (ou mentes) ordinário.
Quais roupas vestem o frio?
e as estrelas caíram todas mortas
vermelhas
hemorrágicas do querer.

Tatuei nas minhas costelas
Sentir
no meu ombro,
compaixão embarrada,
brotou uma flor-de-lótus.

:: habitante de mim 2:25 PM

... :: Quinta-feira, Outubro 06, 2005 ::

Nuance


"é na mudança
que as coisas encontram repouso" (Heráclito)

persisti com o sagrado
reli entre-linhas
e tudo era óbvio:
as interpretações são minhas

e morreu o sonoro
- aquele de quando
eu me calava aberta
em poros sujos
para sentir o teu falar -
fiquei aqui
revendo conceitos
em busca de um antigo eu

De sonora, resta a saudade
(I don't wanna, i don't think baby)
A juventude começou agora
por isso fecho os olhos.
meses atrás despertara
e antes que, o que de bom há em mim
pudesse apodrecer
bati com a cabeça
e no corte sangrento
a sabedoria esvaeceu.
Debilada mentalmente, sonho outra vez
Em clima tenso
de jorro que se nega acordar.
Mas isso, não temo.

:: Quinta-feira, Setembro 29, 2005 ::

Sem

motivos para me aborrecer
essa cleptomania de esconder
o que não encontro

eu experimento
a estética dermatológica
do ser escrito.
Preciso me ver enquanto
realizo estranhos fetiches

como se tudo fosse...
estrangeirismo fotográfico
que queima lentamente.
(burn... burn)
toco meus lábio lentamente
e isso exige beleza
extrema por ser primeira

no rubor das faces
no rubor da cama
como se já não me coubesse
eu crivo
dentes tortos de ava
são meu sigilo.


não tenho olhos
só pele penetrada
encostada por ossos
eu penso em me querer

diga adeus aos manuscritos
tudo não passa de
concha de botão
(e isso encomoda tanto)

Sabe que às vezes prefiro isso
flores de cola seca
e brisa cinza
perfumada

Vou me alimentando
desse acre estranho
bem perto, quase estanho
agora é preciso esperar
me apaixonei por algo errado
como se já não coubesse
ainda procurei abrigo.

:: habitante de mim 5:33 PM
...

Pena

colocaria em palavras
o que não me serviria em cena
o enquadramento sonâmbulo
o querer distante
Mas o sonhar (de ilusão)
transformou-se em pena

Rica de compaixão alheia
requerida no que de severo
teu sorriso expõe

Rompeu o que conhecia do silêncio
tudo manifesta-se em balanços musicais
Só e sereno
contemplo o que se consome
sórdido em seu jamais.

:: habitante de mim 5:27 PM
...
:: Quinta-feira, Setembro 15, 2005 ::

O barulho de dentro é pior que silêncio

ouço minha voz
quase fraca
"saída das bocas miúdas
das feridas
por onde, em pus,
também (me) sai a vida"

onde, me pûs
calar teus desalentos?
nos panos negros
que comprimem mistérios
tão cegos dessa distância

lá, na minha solidão
reaprendo o sentir liberdade
Vão ser outros caminhos
(um outro lar, talvez)
A vida já está de saída
acompanho-a em seu andar

As falas desse cotidiano
melancólico
recompõem o resistir
(cansei-me de tentar o teu segredo)
Ajo desconstruindo
que se faça o encontro!

:: habitante de mim 12:51 PM
...

deixem falar por mim


Eu
(Florbela Espanca)

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névou tênue e esvaecida,
E queo destino amargo, triste e forte,
Impele brutalemente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!



(exagerado eu sei, mas fazer o que se sou reencarnação da própria)

:: habitante de mim 12:32 PM
...

Do pensar que não cabe ser dito
(ou poema feito entre parênteses)


(aquela luz que me sorri
- sem tempo
e do bloqueio
me dô
à essa teia
marrom glacê
arrastada
em panosque me vestem



- é mais um silêncio
da pausa
pensar
o nada
em sua imensidão
de cor
e qual cor
é corada
coroada
de nada

um aquecimento
ao não-senso -

costura
colcha de retratos
atalhos
compromissos uniformes
- sem armadura
sem farda, uniforme -
puídos e usados
pelo vento

contento
em dançar imóvel
e foi e voltou
montou
recebeu - anfitriã
doce cortesã

mais um pensar
levado ao "isso"
sossêgo real
Um viva
à masturbação menta!)
:: habitante de mim 12:17 PM
...
:: Segunda-feira, Setembro 12, 2005 ::

mais um... pois esse é ótimo


306 PUTANHEIRO
(Glauco Mattoso)

Putana, prostituta, marafona,
rameira, pistoleira, meretriz...
Além do que o sinônimo nos diz,
existe uma perita em cada zona.

Nem tudo na mulher é mera cona:
há a bunda, o seio, a rótula, o nariz...
Cliente mais exótico, feliz,
a velha zona erógena abandona.

É o caso do podólatra, que quer
o pé dela em sua boca e no seu falo,
ou pôr seu pé na boca da mulher.

Do fetichista cego já nem falo,
pois seu desejo não é pé qualquer,
mas o que tem chulé, frieira e calo.

:: habitante de mim 11:23 AM
...

(Sejamos pés, para o chão que é Glauco)



418 SENSORIAL
(Glauco Mattoso)

Sensíveis todos somos, mais ou menos,
mas seres sensitivos, só os pequenos.

Sentir é propriedade material.
A gente sente a forma, o peso, a cor,
aromas e calores, doce ou sal.

Filósofos entendem que a verdade
não passa de ilusão. Pensamos nela
apenas como quem aspira, anela:
delírios dum recluso atrás de grade.

Sentir é perceber o que é real,
mas é também querer, seja o que for,
alguém ou algo, intenso, especial.

Se somos sensuais, quem sabe é Vênus.
Serão sentimentais somente os plenos.

:: habitante de mim 11:19 AM
...

eu choro?
Desconfio do meu cansar
é esse ser sozinho
esse estar longe daquilo
que o amor protege
e quem se importa
em ouvir?
O silêncio (sempre ele) ouve
e esquece de trazer consolo
a luz não aquece

:: habitante de mim 10:45 AM
...
hoje vou contar umas mentiras. não cabe sal de luzos, eu traguei meus soluços.


Trivial

Exposto ao sol vitral
e ao vento temporal
(de tempestade)
As folhas que
mentiam suspensas
perderam a linha

Quem será o próximo
a ser solto pelo tempo?
Poucos tantos cantos
poemas
sintaticamente locais
No ar não há lugar
Em um dia
a luz começa e finda
Exposto ao cheiro que é podre
(simplesmente restos - os sujos)
Quem será o último
a suportar o tempo?

Eu toco sentimentos passados
O futuro está morto.




(sim... estou de péssimo humor)
:: habitante de mim 10:41 AM ...
:: Segunda-feira, Setembro 05, 2005 ::

perolado

logo depois que o sol se abriu
saí à espreita
da tua sombra
O engraçado
é que tudo calou

Voltei para minha concha
portátil
Sorri antes mesmo de tu chegar
ficou maquiado
até ouvir teu "olá"

Senti o calor da tua pele
(já não era mais sombra)
e procurei aquecer meus pés
no meu andar.

:: habitante de mim 6:49 PM
...

Anestesia

corte
recorte-mundo
(dor de mar-celeste)
redescobri os mitos
e eram tantas flores
em um harmonioso concreto
Soprou camomila
(- dê-me uma cor
e me lamba em sinestesia)
contida
eu não via
só tinha as costas

:: habitante de mim 6:47 PM
:: Quinta-feira, Setembro 01, 2005 ::
Por menor

Resta uma linha para o tempo?
Felicitou-me aquela imagem
que recebia (durante a espera)
apenas
(exagero jupiteriano)
O grave diz
afinado tanto, quanto
não entendia

meus sapatos
me fizeram acreditar

Soa perto, bem perto
sem se repetir indiferente
(não me deixe,
o quanto quiser - queixe)

Por que não matar a falta
com presença?
(Usei a desculpa do frio
e me guardei como poeira)
Minah pequena não me quer
prefere a rainha
(ela acredita em escolhas
- eu não...)

Deve ser o laço
negro e pontilhado
Gostei muito.
Tive vontade de permanecer
bonita.

:: Segunda-feira, Agosto 22, 2005 ::

Do teu coito, sonharam oito

Te olhando assim
tenho o véu
mais cândido
Levanta o céu pra mim
e sorri
esquecendo o dizer

As nuvens são barras
negras sobre
teu rubor
Bastaria romper esse pouco
e voar para não-sei
quais braços
(mas há braços)
me enredar

Teu balanço
suspenso, já aqueceu
meu esquecimento
o ventre ganhou medo
e expulsou
(já não me lembro)
o que um dia
chamamos de cor


Levanta o frio pra longe de mim
Assim eu me preocupo
mais conosco
os dois

zilhões de sonhos
que guardamos na encubadora
esperando o caos voltar
Gerados nas chuvas de outubro.

Levanta meu mundo
sem fim
Preciso ver o que há
por debaixo
descançar o sono
o tal que ainda não foi achado
(ele sempre se manteve desperto)
Já há nuvens prontas
para alvorecer.

:: habitante de mim 5:44 PM

... :: Quinta-feira, Agosto 18, 2005 ::

homenagem

não devo respeito
incapaz de se gerar
natura
que me desse
teu nome (sonífera)
que me desse teus homens
madre vadia

houve um cercado
aquele lado é o teu
eu fico com a terra de pedras
para rezar vidas milagrosas
que teus cuspes me vão gerar

desse ventre amaldiçoado
em pus
o meu querer
meu nome
desses homens
noite tardia.

:: habitante de mim 7:15 PM
...
:: Segunda-feira, Agosto 15, 2005 ::

poucos acordes

Comuniquei
o tanto aos outros
que me ouviam
- todas as palavras
(como, às vezes, não parece)
erram canções

e me sorriam
eu sabia que já estava em casa
foi então que alguém partiu
sem deixar aceno

olhei pela janela
o horizonte se fez pequeno
toquei minha pele
está aqui
me pedindo cuidados
cessa (no momento) esse sonhar.

:: habitante de mim 12:34 PM
...

Saiba o qu'eu sei

ouvindo o suave despertar
dos meus vizinhos
Creio que meu sonhar
distraiu a civilização

Como cabe tanta beleza
em uma só fêmea?
(ventre de feitiços
por natureza)
Eu a suspendo
no seu cair
que é logo acima do meu
que é vontade pelo que se perdeu

Giro em ciranda
soluçando intérpretos movimentos
Meu sorriso zonzo - copiado -
recebe os nove dias
sem repetir cores
Sendo vento entre teus
poucos cabelos
Correndo pra longe
de onde anseio

Devias cantar mais vezes
e deixar-me entender
o sentida des'amor.

:: habitante de mim 12:30 PM ...

mal-me-quer

me deste as dores
do mundo
para que pesasse
em meus ombros

Não pude...
era pouco para viver
Abandonei a mentira maior
Desejei boa sorte

Engole seco
este teu orgulho!
Vou para o lugar
onde tuas mãos me colocaram
Longe da TUA dor
ofegarei livre
sem ressentir o medo
sem ressentir meu desejo
Volto, assim, que a cicatriz
te curar.

:: habitante de mim 12:26 PM

Tente estar lá

Despetaladas
as cores sangram
o céu anil
Nebulosos de tanto silêncio
angústias
a um assovio
um olhar de desejo
e desconhecido
(seguira desconhecido)

Há outros caminhos
o céu perdeu suas cores
A porta abre
e o cheiro azedo
diz que eu errei
o caminho de casa.

:: Domingo, Julho 17, 2005 ::

Bailarina

(coloquei a mão no seu ombro)
e se esse sopro
vindo de não-sei-onde
for crisálido sonho?

as dançarinas esconderam
suas faces para o choro.
A dor deu voltas
para si mesma
- soberba e medo
que vem se repetindo.
Mas algo vibra ante o temer
rompe em silêncio poluído
de anestesia.

O que mais fala
por nós?
Inexatos pela simetria
nesse despertar sóbrio
para a magia.

Os calos cantam
celebrando as feridas
Temo tu não veres fim
em ti mesmo.


:: habitante de mim 1:27 PM
...

Sombrais

tão estúpidos teus pingos
doces
de cólera arrependida
eu sempre espero, mas eles nunca vêm
me cubro de noite
sorrindo em desdém


como a dança dos restos (solitários)
a mercê de encontros
transando misturas
de sujeira rubra
maldito juízo que
recorta as figuras
raras, e únicas
Pulsam compridas
em pulsos puídos
des-figura
toda menção

:: habitante de mim 12:39 AM
:: Quinta-feira, Julho 14, 2005 ::
Era pra ser surpresa, mas achei tão legal a apresentação do meu livro, que preciso compartilhar.
Voi lá!

Resposta de Eva

O título acima é o de um dos poemas de Eliane, que tiveram que ficar de fora desta antologia. A guria escreve muito e tivemos que estabelecer critérios para que pudéssemos fechar o livro. Um deles: provocar, tudo bem, mas invectivar contra o santo dos santos homens, aí o buraco é mais embaixo ('filho da puta/ das costelas que me concedeste...', começa ela).

Seu irmão, Arlênio Rubi, diretor artístico do Balett do Mariano Pinto, vai à Missa todos os domingos. Por que comprar briga com os seus? Não. Arlênio tem justificadas razões para entender que sentará no colo de Deus-Pai, logo, não podemos colocar em risco suas aspirações mais íntimas.

('Divino, porra nenhuma!', escreve a impossível, 'Toma de volta essas costelas / mal-amadas / Não careço de restos / para dar-me aos homens'. O bailarino teve um ataque tal que o Almodóvar entrou em contato para negociar a continuação de seu Mulheres à beira de um ataque de nervos, Rubi substituindo a Carmen Maura. Só não filmou porque o Banderas anda a meio pau depois que casou com a Melanie.)

O que podemos adiantar é que Eliane, melancólica, pessimista, que se diz impotente diante das imposições da vida em sociedade, sabe muito bem se defender. Atira pra tudo quanto é lado, e certeira. Porque existe um lado dark no mundo (se até na lua tem!), para o qual não gostamos de olhar, então é preciso, de quando em vez, alguém aventurar-se por essas paragens, para que possamos continuar nossa vidinha de sempre, sem maiores riscos entre o berçário e o necrotério. 'O que vem depois, sigam-me, que eu garanto', diz o irmão, arrastando seu manto diáfano.

Eliane não é diáfana. Provavelmente, não vai para o céu.


*Pipo Randall, PhD


(* José Carlos Queiroga - grande mentor)

:: habitante de mim 4:08 PM
...
:: Terça-feira, Julho 12, 2005 ::

Acontecimento

Minhas lembranças
romperam com o suave
ficou o gosto
de sua avidez.

A noite invadiu ao sopro árduo
essas ruas de sorriso árido
de rimas tortas
sem sombras e mortas

Ainda era escuro
tão negro seu despertar
Percorri os lados
sem me tentar olhar
o que se passa...
(comigo)
Num imperativo de burlar
alguma lei da pata-física
além da névoa cerrada
comprimindo meu vôo
mentiroso e cansado.

Não cheguei ao encontro
esperei
sem respostas
Talvez meu cheiro
talvez...
o sol se fez fechado
Não consegui engolir
as coisas pequenas
Rompi os traços


:: habitante de mim 3:17 PM
...
Só Louco! Só Poeta!

No ar purificado,
quando já o refrigério do orvalho
goteja sobre a terra,
invisível, inaudível também
- pois o consolador orvalho usa
sapato delicado, como todos os apaziguadores -
recordas-te então, recordas-te, coração ardente,
como outrora tinhas sede,
enquanto nas veredas amarelecidas
olhares perversos do sol poente
te perseguiam através de árvores negras,
olhares ofuscantes de fogo solar, olhares maliciosos.
- Pretendente da verdade - tu? escarneciam eles
um bicho astuto, predador, rastejante,
que tem que mentir,
que tem que mentir deliberadamente, voluntariamente
disfarçado de variegadas cores,
máscara para si próprio,
de si próprio presa
isto - o pretendente da verdade?...
Só Louco! Só Poeta!
Só falando à toa,
sob máscaras de louco falando à toa,
subindo por mentirosas pontes de palavras,
por arco-íris de mentiras
entre falsos céus
vagueando, rastejando -
louco! poeta!...

Isto - o pretendente da verdade?...

Não quieto, rígido, liso, frio,
tornado estátua,
não como coluna de deus
colocada diante dos templos,
guardião de um deus:
não! hostil a essas estátuas de virtude,
mais íntimo dos desertos que dos templos,
cheio de felina malícia
saltando por qualquer janela
upa! para todo o acaso,
pelo faro procurando qualquer floresta virgem
para que nas florestas virgens,
entre feras de pêlo malhado,
corresses pecaminosamente são e belo e colorido
com beiços lúbricos,
ditosamente escarninho, infernal, sanguinário,
corresses roubando, rastejando, mentindo...

Ou semelhante à águia que longa,
longamente fixa os abismos,
os seus abismos...
- Oh! como estes se enroscam lá para baixo,
para o fundo, para dentro,
em profundezas cada vez mais fundas! -
Então,
de súbito,
em vôo picado,
num rasgo palpitante
cair sobre os cordeiros,
repentina, voraz,
ávida de cordeiros,
hostil a todas as almas de cordeiros,
raivosamente hostil a tudo o que tem olhos
virtuosos, de carneiro, de lã encaracolada,
a toda a estupidez, à leitosa benevolência de cordeiro...

Assim,
de águia, de pantera,
são os anseios do poeta,
são os teus anseios sob mil máscaras,
ó louco! ó poeta!...

Tu que viste o homem
como deus tanto como carneiro - ,
despedaçar o deus no homem
tal como o carneiro no homem
e rir despedaçando -
isto, isto é tua ventura,
ventura de pantera e águia,
ventura de poeta e louco!...

No ar purificado,
quando já a foice da lua
verde por entre vermelhos purpúreos
e ciumenta desliza,
- hostil ao dia,
a cada passo secretamente
ceifando as roseiras balouçantes
até caírem,
afundarem-se pálidas em direção à noite:
assim eu mesmo caí outrora
da minha loucura da verdade
dos meus anseios de dia,
cansado do dia, doente da luz,
- caí, para o fundo, para a noite, para a sombra,
abrasado e sedento
de um verdade
- recordas-te ainda, recordas-te, coração ardente,
da sede que então sentias? -
ah, que eu seja banido
de toda a verdade!

Só Louco! Só poeta!...

(Frederico Nietzsche)