:: Quinta-feira, Setembro 29, 2005 ::

Sem

motivos para me aborrecer
essa cleptomania de esconder
o que não encontro

eu experimento
a estética dermatológica
do ser escrito.
Preciso me ver enquanto
realizo estranhos fetiches

como se tudo fosse...
estrangeirismo fotográfico
que queima lentamente.
(burn... burn)
toco meus lábio lentamente
e isso exige beleza
extrema por ser primeira

no rubor das faces
no rubor da cama
como se já não me coubesse
eu crivo
dentes tortos de ava
são meu sigilo.


não tenho olhos
só pele penetrada
encostada por ossos
eu penso em me querer

diga adeus aos manuscritos
tudo não passa de
concha de botão
(e isso encomoda tanto)

Sabe que às vezes prefiro isso
flores de cola seca
e brisa cinza
perfumada

Vou me alimentando
desse acre estranho
bem perto, quase estanho
agora é preciso esperar
me apaixonei por algo errado
como se já não coubesse
ainda procurei abrigo.

:: habitante de mim 5:33 PM
...

Pena

colocaria em palavras
o que não me serviria em cena
o enquadramento sonâmbulo
o querer distante
Mas o sonhar (de ilusão)
transformou-se em pena

Rica de compaixão alheia
requerida no que de severo
teu sorriso expõe

Rompeu o que conhecia do silêncio
tudo manifesta-se em balanços musicais
Só e sereno
contemplo o que se consome
sórdido em seu jamais.

:: habitante de mim 5:27 PM
...
:: Quinta-feira, Setembro 15, 2005 ::

O barulho de dentro é pior que silêncio

ouço minha voz
quase fraca
"saída das bocas miúdas
das feridas
por onde, em pus,
também (me) sai a vida"

onde, me pûs
calar teus desalentos?
nos panos negros
que comprimem mistérios
tão cegos dessa distância

lá, na minha solidão
reaprendo o sentir liberdade
Vão ser outros caminhos
(um outro lar, talvez)
A vida já está de saída
acompanho-a em seu andar

As falas desse cotidiano
melancólico
recompõem o resistir
(cansei-me de tentar o teu segredo)
Ajo desconstruindo
que se faça o encontro!

:: habitante de mim 12:51 PM
...

deixem falar por mim


Eu
(Florbela Espanca)

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névou tênue e esvaecida,
E queo destino amargo, triste e forte,
Impele brutalemente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!



(exagerado eu sei, mas fazer o que se sou reencarnação da própria)

:: habitante de mim 12:32 PM
...

Do pensar que não cabe ser dito
(ou poema feito entre parênteses)


(aquela luz que me sorri
- sem tempo
e do bloqueio
me dô
à essa teia
marrom glacê
arrastada
em panosque me vestem



- é mais um silêncio
da pausa
pensar
o nada
em sua imensidão
de cor
e qual cor
é corada
coroada
de nada

um aquecimento
ao não-senso -

costura
colcha de retratos
atalhos
compromissos uniformes
- sem armadura
sem farda, uniforme -
puídos e usados
pelo vento

contento
em dançar imóvel
e foi e voltou
montou
recebeu - anfitriã
doce cortesã

mais um pensar
levado ao "isso"
sossêgo real
Um viva
à masturbação menta!)
:: habitante de mim 12:17 PM
...
:: Segunda-feira, Setembro 12, 2005 ::

mais um... pois esse é ótimo


306 PUTANHEIRO
(Glauco Mattoso)

Putana, prostituta, marafona,
rameira, pistoleira, meretriz...
Além do que o sinônimo nos diz,
existe uma perita em cada zona.

Nem tudo na mulher é mera cona:
há a bunda, o seio, a rótula, o nariz...
Cliente mais exótico, feliz,
a velha zona erógena abandona.

É o caso do podólatra, que quer
o pé dela em sua boca e no seu falo,
ou pôr seu pé na boca da mulher.

Do fetichista cego já nem falo,
pois seu desejo não é pé qualquer,
mas o que tem chulé, frieira e calo.

:: habitante de mim 11:23 AM
...

(Sejamos pés, para o chão que é Glauco)



418 SENSORIAL
(Glauco Mattoso)

Sensíveis todos somos, mais ou menos,
mas seres sensitivos, só os pequenos.

Sentir é propriedade material.
A gente sente a forma, o peso, a cor,
aromas e calores, doce ou sal.

Filósofos entendem que a verdade
não passa de ilusão. Pensamos nela
apenas como quem aspira, anela:
delírios dum recluso atrás de grade.

Sentir é perceber o que é real,
mas é também querer, seja o que for,
alguém ou algo, intenso, especial.

Se somos sensuais, quem sabe é Vênus.
Serão sentimentais somente os plenos.

:: habitante de mim 11:19 AM
...

eu choro?
Desconfio do meu cansar
é esse ser sozinho
esse estar longe daquilo
que o amor protege
e quem se importa
em ouvir?
O silêncio (sempre ele) ouve
e esquece de trazer consolo
a luz não aquece

:: habitante de mim 10:45 AM
...
hoje vou contar umas mentiras. não cabe sal de luzos, eu traguei meus soluços.


Trivial

Exposto ao sol vitral
e ao vento temporal
(de tempestade)
As folhas que
mentiam suspensas
perderam a linha

Quem será o próximo
a ser solto pelo tempo?
Poucos tantos cantos
poemas
sintaticamente locais
No ar não há lugar
Em um dia
a luz começa e finda
Exposto ao cheiro que é podre
(simplesmente restos - os sujos)
Quem será o último
a suportar o tempo?

Eu toco sentimentos passados
O futuro está morto.




(sim... estou de péssimo humor)
:: habitante de mim 10:41 AM ...
:: Segunda-feira, Setembro 05, 2005 ::

perolado

logo depois que o sol se abriu
saí à espreita
da tua sombra
O engraçado
é que tudo calou

Voltei para minha concha
portátil
Sorri antes mesmo de tu chegar
ficou maquiado
até ouvir teu "olá"

Senti o calor da tua pele
(já não era mais sombra)
e procurei aquecer meus pés
no meu andar.

:: habitante de mim 6:49 PM
...

Anestesia

corte
recorte-mundo
(dor de mar-celeste)
redescobri os mitos
e eram tantas flores
em um harmonioso concreto
Soprou camomila
(- dê-me uma cor
e me lamba em sinestesia)
contida
eu não via
só tinha as costas

:: habitante de mim 6:47 PM
:: Quinta-feira, Setembro 01, 2005 ::
Por menor

Resta uma linha para o tempo?
Felicitou-me aquela imagem
que recebia (durante a espera)
apenas
(exagero jupiteriano)
O grave diz
afinado tanto, quanto
não entendia

meus sapatos
me fizeram acreditar

Soa perto, bem perto
sem se repetir indiferente
(não me deixe,
o quanto quiser - queixe)

Por que não matar a falta
com presença?
(Usei a desculpa do frio
e me guardei como poeira)
Minah pequena não me quer
prefere a rainha
(ela acredita em escolhas
- eu não...)

Deve ser o laço
negro e pontilhado
Gostei muito.
Tive vontade de permanecer
bonita.

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