:: Domingo, Fevereiro 22, 2004 ::

Balanço Final

Entre mortos e feridos
estimo um número infinito

Inúmeras decepções
tal como a proporção
de estimativas superadas.
Toda dor vale a pena.

:: habitante desse universo 8:18 PM

... :: Sexta-feira, Fevereiro 20, 2004 ::

O Muro

Além dos tijolos
Do concreto
Do sol e sereno
Além mesmo
Do horizonte rompido
estão os livros

As escritas aéreas
A luz sem corte
O pensamento
A atitude sem limites

Além do grafite
Da merda canina
Dos vidros cortantes
estão os saltos
A ousadia
Os guindastes
Construções e destruições

A primeira flor que nasce
em seu pedestal
A primeira pessoa que morre
contra seu cal alvo

Além da barreira
Da sombra seca
Do guardião de cimento
estão os limites de mentes
Edificadas com preconceitos
Temerosos
e Poderosos
cães de guarda


:: habitante desse universo 11:35 PM ...

Estofado Novo

Já viste como está o dia?
Já viste que cor te guia?
Então fiques a vontade
Não tenho culpa
Se nada conforta tua dor
Não tenho culpa
Ninguém a tem
A culpa está em falta
Tudo acaba caindo
Nas costas de ninguém

Já viste teu rosto no espelho sujo?
Ou será que sujo é teu rosto?
Não consegues mais ficar a vontade...
São minhas perguntas?
Ou essas vagabundas?

Não, não, não
As respostas estão todas claras.
Pegue papel e álcool
e limpe logo esse reflexo

:: habitante desse universo 11:33 PM
...
'mín lífs-
Speki alltaf rétt ?'
(Sigur Rós)
(minha filosofia está sempre correta?)




PARA QUE FILOSOFIA?
(Do livro de Marilena Chauí ¿ Introdução a Filosofia)

Ora, muitos fazem uma outra pergunta: afinal, para que Filosofia?

É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, por exemplo, para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia? Para que história ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomia ou química? Para que pintura, literatura, música ou dança? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: Para que Filosofia?

Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: "A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual". Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de "filósofo" alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.

Essa pergunta, "Para que Filosofia?", tem a sua razão de ser.

Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de utilidade imediata.

Por isso, ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à realidade.

Todo mundo também imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte, quanto porque nossa cultura vê os artistas como gênios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade. Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: não serve para coisa alguma.

Parece, porém, que o senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, através de instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os.

Ora, todas essas pretensões das ciências pressupõem que elas acreditam na existência da verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como aplicação prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados.

Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca respostas para elas.

Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas os cientistas e filósofos sabem disso, o senso comum continua afirmando que a Filosofia não serve para nada.

Para dar alguma utilidade à Filosofia, muitos consideram que, de fato, a Filosofia não serviria para nada, se "servir" fosse entendido como a possibilidade de fazer usos técnicos dos produtos filosóficos ou dar-lhes utilidade econômica, obtendo lucros com eles; consideram também que a Filosofia nada teria a ver com a ciência e a técnica.

Para quem pensa dessa forma, o principal para a Filosofia não seriam os conhecimentos (que ficam por conta da ciência), nem as aplicações de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral ou ético. A Filosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem-viver.

Essa definição da Filosofia, porém, não nos ajuda muito. De fato, mesmo para ser uma arte moral ou ética, ou uma arte do bem-viver, a Filosofia continua fazendo suas perguntas desconcertantes e embaraçosas: O que é o homem? O que é a vontade? O que é a paixão? O que é a razão? O que é o vício? O que é a virtude? O que é a liberdade? Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos? Por que a liberdade e a virtude são valores para os seres humanos? O que é um valor? Por que avaliamos os sentimentos e as ações humanas?

Assim, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia não é o conhecimento da realidade, nem o conhecimento da nossa capacidade para conhecer, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia é apenas a vida moral ou ética, ainda assim, o estilo filosófico e a atitude filosófica permaneceriam os mesmos, pois as perguntas filosóficas - o que, por que e como - permanecem.

:: habitante desse universo 11:32 PM

Tratado Internacional

Declaro
diante a todos
que são presentes
aqui
e sempre,
de que este sangue
continua vivo

Pulsa
Dá notas a cada batida

Declaro também
(e tão bem)
que o sol
desvenda todos mistérios.
A mentira morre seca.

Pulsa
Dá melodia a todas fantasias

E assim termino
na véspera de Carnaval
onde por segundos
tudo esvazia
(tão bem)

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