Não é que eu estava certa!?
:: habitante desse universo :: 11:09 PM [+] ::
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Será que Nietzche amou verdadeiramente e foi correspondido alguma vez na vida?
ENTREVISTA a Friedrich NIETZSCHE*
Extraído de As mulheres? Da sua emancipação
Marc Sautet: Meu caro Friedrich Nietzsche, sinto-me particularmente lisonjeado pelo facto de poder entrar em contacto com o seu espírito. Já há bastante tempo que me tenho debruçado sobre a sua obra, para verificar a pertinência dos julgamentos que os meus contemporâneos teciam sobre si e que eu nunca compreendi. Inicialmente perturbado com as minhas descobertas, a sua Obra abriu-me tantos horizontes que acabei por me sentir muito compensado no meu próprio trabalho. Não se admire demasiado pelo facto de eu lhe reservar este último assunto de conversa sobre a mulher. E depois, você tem tanto a dizer sobre o assunto!
Nietzsche: ¿Buona femmina e mala femmina vuol bastone¿.
M.S.: Como diz?
Nietzsche: Sachetti, Trecento novelle, 1399.
M.S: Ah, estou a ver... é uma velha máxima retirada da recolha de novelas de Sachetti: ¿Quer ela seja boa quer seja má, a mulher merece o bastão¿. O que significa: ¿Bate na tua mulher! Se tu não sabes porquê, ela saberá.¿ Mas, diga-me, devo eu considerar esta chalaça até ao segundo ou mesmo ao terceiro grau como o afirmam tantos dos seus admiradores desde a ponderação dos vossos propósitos, ou não?
Nietzsche: Ver as últimas belezas de uma obra por maiores que sejam a nossa ciência e a nossa boa vontade, é tarefa para a qual elas não poderão bastar; são ainda necessários os mais felizes acasos, as coincidências mais raras, para afastar dos altos cumes o véu de nuvens e fazer brilhar o sol sobre eles. Para distinguir este quadro, não vos podeis contentar em estar no bom lugar: é preciso que a própria alma se tenha despojado também do véu das suas próprias alturas e que sinta a necessidade de uma expressão, de um símbolo exterior, para conhecer uma espécie de paragem, para ficar senhora de si própria. Mas tudo isto se encontra tão raramente reunido que estou muito tentado em crer que os mais altos cimos de toda a perfeição -- quer sejam numa obra, numa acção, num homem, ou na natureza -- estiveram escondidos até aqui, velados aos olhos da maior parte, mesmo dos melhores... e aquilo que se nos desvenda só se desvenda uma vez! Os Gregos pediam «duas e três vezes a beleza total»... É que tinham, ai de mim, uma excelente razão para assim se dirigirem aos deuses: a realidade não divina, recusa-nos o belo ou só no-lo dá uma única vez! Considero que o mundo, repleto de belas coisas, é, contudo, pobre, extremamente pobre em belos instantes e em revelações destas coisas. Mas talvez que seja esse o maior encanto da vida: carrega consigo, bordado a ouro, um véu prometedor, defensivo, pudico, trocista, complacente e tentador de belas possibilidades. Pois é assim mesmo a vida, a vida é mulher! (Gaia Ciência # 339, pp. 226 e 227).
M.S: Estou a reconhecer um dos vossos aforismos da Gaia Ciência, intitulado, se bem me lembro, ¿Vita femina¿. Mas a mensagem escapa-me. Qual a relação com Sachetti? Parece-me que você se encontra nos antípodas! Como aplicar bastonadas a uma criatura assombrosa, pudica, compadecida e sedutora, mesmo que ela seja irónica?
A sombra de Nietzsche guarda silêncio, mas começa a desdobrar-se. E o seu duplo começa a falar: na mulher tudo é enigma, mas esse enigma tem uma solução -- essa solução é a maternidade. Para a mulher o homem é um meio: o fim é sempre o filho. O que é então a mulher para o homem? O homem digno desse nome apenas ama duas coisas: o perigo e o jogo. É por isso que ele deseja a mulher: o mais perigoso dos brinquedos. (Assim Falava Zaratustra: "Das Mulherzinhas Jovens e Velhas", p.69).
M.S.: Assim Falava Zaratustra!
Zaratustra (emergindo da sombra de Nietzsche): O homem deve ser educado para a guerra, a mulher para o repouso do guerreiro: fora disto tudo é loucura. O guerreiro não gosta dos frutos adocicados. É por isso que ele ama a mulher; há amargura mesmo na mais doce das mulheres. A mulher melhor do que o homem compreende as crianças, mas o homem é criança, mais do que a mulher. Todo o homem digno desse nome oculta em si uma criança que quer brincar. Assim, mulheres, cuidai de descobrir a criança escondida no homem. Que a mulher seja um brinquedo, puro e delicado semelhante ao diamante, brilhando com as virtudes de um mundo que não existe ainda. Fazei entrar no vosso amor o reflexo de uma estrela longínqua. Que a vossa esperança seja: ¿Possa eu dar à luz o super-homem!¿ Que vosso amor seja corajoso! Fortalecidas pelo vosso amor, atacai aquele que vos inspira medo. Ponde a vossa honra no vosso amor. A mulher, aliás, pouco sabe da honra. Mas a vossa honra está em amar mais do que sois amadas e em nunca ficardes em dívida. Que o homem tema a mulher que ama, pois ela não recuará perante sacrifício algum, e tudo o resto lhe parecerá sem valor. Que o homem tema a mulher que odeia, pois o homem, no fundo do seu coração, é maldoso, mas a mulher é malévola. (Qual é o homem que a mulher acima de tudo odeia? O punhal diz ao amante: ¿É a ti que, acima de tudo, odeio, pois me atrais mas não és suficientemente forte para me guardares junto de ti.¿
A felicidade do homem é dizer: ¿Eu quero¿. A felicidade da mulher é poder dizer: ¿Ele quer¿; assim pensa a mulher, quando por amor obedece. E a mulher tem necessidade de obedecer e de dar profundidade à sua superfície. A alma da mulher é superficial, como as águas de um lago sob a tempestade. Mas a alma do homem é profunda, a sua corrente ruge através de grutas subterrâneas: a mulher pressente essa força, mas não a compreende. (Assim Falava Zaratustra: "Das Mulherzinhas Jovens e Velhas", pp. 69 e 70).
M.S.: Aí estão propósitos bem firmes e viris, caro Friedrich Nietzsche! Eles desafiam sem rodeios todos aqueles que aspiram à igualdade dos sexos. Mas eles provêm do seu duplo: cauciona-os ou rejeita-os? Esse mágico persa, a quem você dá a palavra, opõe-se radicalmente à pressão dos feministas: ele serve-vos de cavilha ou revela os seus pensamentos secretos?
Nietzsche (recuando): Poderemos, nos três ou quatro cantos civilizados da Europa, fazer das mulheres, através de alguns séculos de educação, tudo aquilo que quisermos, mesmo dos homens, não à verdade no sentido sexual, mas sim em todos os outros sentidos. Sob uma tal influência, elas irão receber um dia todas as virtudes e forças dos homens; é verdade que além desta aquisição, receberão também as suas fraquezas e os seus vícios; isto, como eu disse, pode-se obter. Mas como suportaremos nós assim o estado de transição amena, o qual poderá durar mais de um século, durante o qual, as asneiras e as injustiças femininas, as suas antigas ligações, pretenderão ainda arrebatar em toda a sua aquisição, o aprendido? Isto será o tempo em que a cólera constituirá a paixão propriamente viril, a cólera de ver todas as artes e as ciências inundadas e obstruídas por um diletantismo inaudito, a filosofia morrendo sob o fluxo de um galreio a perder o espírito, a política mais fantasista e mais parcial que nunca. A sociedade em plena decomposição, porque as guardiãs da antiga moral tornar-se-ão ridículas aos seus próprios olhos e esforçar-se-ão em todos os domínios excepto na moral. Com efeito se as mulheres tivessem em relação à moral o seu grande poder, a que deveriam elas agarrar-se para ganharem uma tal medida de poder, uma vez que elas teriam desprezado a moral? (Humano demasiado Humano # 425).
*Texto original de Marc Sautet.
Tradução de Ercília B. P. Almeida
Revisão técnica e científica de J. Costa
:: habitante desse universo :: 10:57 PM [+] ::
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:: habitante desse universo :: 10:44 PM [+] ::
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Memória
Ao chegar nesse ponto,
olho para trás
tentando encontrar as migalhas de pão.
E por sorte
a terra
e os pássaros
devoraram o meu passado.
O fato de estar
exatamente aqui,
livre,
nesse instante,
deve-se exatamente
pelo meu esquecimento.
Sem memória,
e sem prisões,
sou a pessoa mais feliz,
a pessoa mais viva.
Viver e morrer diariamente,
afasta de mim
o peso do arrependimento.
Sustento-me na possibilidade
de realizar meus sonhos
no presente,
pois se eu morresse,
não faria e nem sentiria a menor falta.
Tudo está pronto
e acabado,
pois o tempo não existe,
o tempo é memória,
e essa,
eu já não possuo mais.
:: habitante desse universo :: 10:37 PM [+] ::
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Fotos mofadas
Vasculhar no baú sujo e velho que é minha alma dolorida tem me ajudado a encontrar feitiços para a cura da mesma. O ódio foi transformando-se em pura admiração, e as dores tomaram um aspecto narcótico e alucinógeno. Sentir tem sido o meu mais precioso ópio. Quando algo parece desaparecer da minha memória, sinto cheiro de recordações, fotografias focadas por minha sombra, à qual estava sempre alheia e distante de fatos ocorridos. E somente agora volto a rever essas imagens, só que pela ótica da câmera fotográfica da minha sombra. Ela sempre soube ver com sabedoria e frieza, enquanto eu, sinto através dos olhos; e através dos mesmos baforo sentimentos inocentemente instintivos.
Por isso, sou um ser racional apenas nos dias cinzas, pois transformo-me em sombra, e fotografo as melhores idéias distantes.
:: habitante desse universo :: 8:44 PM [+] ::
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Céu
"Espaço ilimitado
em giram os astros.
Lugar para onde
(segundo os religiosos)
vão as almas dos justos."
Existe ainda
o outro céu,
o que é mole.
E ao contrário do azul,
se pode tocar
até com a ponta da língua.
Não importa o tamanho da mesma,
(o céu é infinito
pela quantia - eterna
de toques recebidos)
todos - inclusive
a alma dos não-justos,
podem tocar o céu-da-boca
do universo desejado.
Madrugada Muda
As pessoas mudam
com seus giros curtos.
A luz muda
a cor dos seus sorrisos.
Tantas ruas
e todas elas, mudas.
Mudo a direção,
e a vida continua.
E nessas madrugadas
o que não muda
é a surdez dos meus sentidos.
Tantas pessoas emudecem.
Tantas luzes desaparecem.
Tantas ruas surdas.
E a vida continua, muda.
:: habitante desse universo :: 8:38 PM [+] ::
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Mexendo em meu precioso buraco debaixo da cama, achei textos valiosos (e primitivos).
Tempo
Acima de uma mesa comprida está lá, com seu som irritante, mas com o com o compasso do tempo. O relógio, seus ponteiros giram 'insignificantemente'. 'Insignificantemente' pois na primeira impressão é mais um invento sem nexo.
Porque marcarmos o tempo, se nós sabemos que um dia nascemos, crescemos, reproduzimos e depois morremos? E qual será a finalidade de contar o tempo? Só para compramos alguma coisa, ou será para comprar relógios?
Mas o relógio assim como o tempo tem alguma finalidade. A finalidade de nos mantermos organizados. Os ponteiros nos ajudam a organizar tarefas. E fazendo assim rotinas. Mas será que serve para criarmos rotina? Na minha opinião, talvez. Se tivermos a noção de manhã, tarde e noite não precisamos de relógio. Mas por outro lado, não teríamos compromissos certos, acabando assim com a rotina.
Já que alguém inventou, e assim alguém adaptou ao uso, o relógio ajuda a fazer dinheiro como diz o ditado. Dinheiro esse que é usado para as coisas que devem ser 'feitas'. Coisas que vão se habituando e se transformando em rotina.
Mas em geral o relógio não passa de um objeto com ponteiro e números que só é observado rapidamente para não 'perdermos tempo'.
Junho/1999
:: habitante desse universo :: 8:34 PM [+] ::
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Poeta Insensível
Hoje não sinto poesia,
apesar da bela
noite que encanta.
A Lua Cheia encoberta
É Bela por si só.
Ela é a própria poesia.
O Céu noturno
é a própria poesia.
Hoje não sinto poesia,
pois não a tenho em mim.
Quem a possui é o mundo,
tudo que há de exterior.
A poesia não está em mim,
Ela está nas coisas;
não nos meus olhos,
está na sua luz interior.
Hoje não sinto poesia,
apenas a vejo moldurada
atrás do vidro dessa janela.
:: habitante desse universo :: 8:30 PM [+] ::
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:: habitante desse universo :: 8:29 PM [+] ::
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Uma frase, a qual criei enquanto ia para a casa da minha amiga, hoje pela tarde:
"O medo nos distancia de tudo que está ao nosso alcance."
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