:: Quarta-feira, Janeiro 18, 2006 ::

Sopro

sobrevi teu canto em sutileza
estava cinza
e sopravas sem querer desiquilibrar

às vezes morno, outras morto
Acaba tudo por ser pó.

:: habitante de mim 12:17 AM
...

árvore geneológica

preserva-se tão inquieto
por mais que o espanque
por mais que o amedronte
sempre fugindo da minha dor

esses dedos tão reincarnados de genes passados
esse mal olhar das vigias noturnas
assim que pronuncio o tempo
ele se repete

voltei a andar descalça, lembrar o mar e sua beira
fiquei com meu balanço autista
cantarolei sonhos ao mundo

Falta ar para me articular
preservo-o tão inquieto
às vezes sim, outras não
sempre belo.

eu que voltei a ver
os vôos distantes...
respostas prontas
pra tudo
exceto pra mim.

:: habitante de mim 12:14 AM
...
:: Terça-feira, Janeiro 17, 2006 ::

No fim

se me prender
a esse som
tão pingado
à mercê de esperanças sangradas,
uma chuva tão gélida
virá em momentos largos

fiquei cansada
Deitei-me
e tapei os olhos do céu

tanto escorria do fim
reverso às olheiras de negra prece
estendi-me em pÊlos
fiquei suja
em àgua pura
queria me lavar
(já não podia)

Correu
para só, então, aquietar
Não precisei prever
eu era calma
Considerava a graça entristecida
Ainda sou melancólica
com uma pele que não gela

:: habitante de mim 3:03 PM
...
:: Sábado, Janeiro 14, 2006 ::

-transforme nossa conversa em poesia
-transformo

(ao rever sugerido por Vagner)


Ela fechou os olhos

precisei da tua mão
não foi tua culpa

estavas oscilando
longe de qualquer postura

e a poesia?
não soubeste dizer porquê
algo sujo aconteceu aos óculos

"as coisas são, como elas são"
ver exatamente, não faz bem aos poetas

Quem sabe a sujeira não te ajude n'outro olhar?
Tenho medo de perder o outro.
por mais que sejam dois, até mesmo três.

Olhou, e disseste rindo que a sujeira coberta
era arranhão de asfalto e limbo.

Essa mistura é um pouco forte
é normal que isso te mude.
Era sombra quando
algo no olhar rompeu sinuoso.

Deixa o olhar escuro.

Talvez dormir
ou simples não ver.
Traz p'ra perto o que não consegues ver
e toca.
"De olhos fechados tudo parece próximo"

é mentira... mas é bonito.

:: habitante de mim 2:15 AM
...
:: Segunda-feira, Janeiro 09, 2006 ::

Alguma Fotografias

- sobre a mesa

Algo digitaliza esse passar. É paz. Estavam esperantes. Já tinham luz, faltavam-lhe o negro. Permaneci muito tempo sem as tocar, apenas oculando o reflexo da luz.

Pensei o quanto seria bom possuir uma câmera, fotografar esse ar belo. Mas fotografias não captam a respiração dos objetos, tão pouco o bafo luminoso. Fotografias desfocam o não estar.

E ninguém estava. Era o café da manhã. Pus a mesa para dois. Um chá de camomila acalmou-se esfriando em espera.

Bebi um café. Uma paisagem sem uma garrafa (minúscula que fosse) de vodka.

O xadrez da toalha, colocou um dos farelos em enigma. Para onde mover essas (minhas) migalhas?

'Apenas um café', consolou-me a luz. É mais um. Amanhã será um chá. Hortelã.

:: habitante de mim 9:57 AM

:: Quinta-feira, Janeiro 05, 2006 ::

The Ghosts You Draw On My Back
(Múm)

The wind plays flute
Through the cellar door
And on my window sill
Plays a sad old song
I hope tonight
You will touch my hair
And draw ghosts on my back

Walk the shore
Too impassable
Shout at screaming waves
Shout at silent rocks
I think tonight
I'll dream of salty tongues
So tears drip down my legs

The wind plays song
Through the cellar door
And on my window sill
Plays a sad old song
I hope tonight
You will touch my hair
And draw ghosts on my back


:: habitante de mim 9:54 AM

Apanhador de pássaros

Qual foi teu intuito
ao desenhar estrelas em meus pés?
O céu ficou quente
deixou tenso o andar
Tenso e inchado

formando bolhas das pontas
eu não tinha sombra

Desenhaste fantasmas em minhas costas
Como vou me livrar de ti?
e de todo resto que passou?

Procurei ajuda na noite
senti o peso dos ombros

Abstraiu tintas em minhas pernas
Sou derme-tua
das mensagens
que não ouso decifrar

Nenhum comentário: