:: Quinta-feira, Novembro 06, 2003 ::

A morte pela qual ninguém conseguiu chorar

Vinte e um de outubro, manhã calda. Muitos nascem, muitos morrem. Mas vou destacar uma morte, uma história.

Morreu ultrapassando os setenta anos, no velório há o silêncio respeitoso, mas nenhuma lágrima.

'Como aconteceu?'
'Eu não sei, acho que suas forças acabaram junto com suas lágrimas.'

Conhecida com tia Chorona desde que se casou. Obviamente bela quando jovem, alvo de grandes paixões.

'Dizem que ficou assim, chorona, por um amor não correspondido.'
'Acredito que não, acho mais provável que tenha sido pelas dificuldades que passou na vida, a coitada. A filha retardada que morreu logo jovem, o marido que a espancava, não achas isso motivos bastante fortes para chorar a vida inteira?'
'E por que tu achas que ela era espancada? Por continuar se encontrando com seu amor secreto.'

Tia Chorona casou-se com seu tio, ainda muito jovem, a família queria dar jeito na menina fogosa e namoradeira.

Uma pessoa extremamente fechada, a qual só sabia expressar-se pelo pranto. Não possuía a coragem suficiente para se impor, mas ao mesmo tempo era uma pessoa muito sensível e temperamental.

Semana passada discutiu com seu neto por uma cueca que foi mal lavada por ela. Não chorou. Percebeu que estava seca, e que não possuía mais lágrimas para chorar suas dores e sentimentos.

Assim deu-se sua morte.

'Uma pessoa amável, confesso, poucas tiveram coragem de chorar tão abertamente as dores do mundo.'
'É... pobrezinha. Que descanse em paz.'


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A festa

Qual teu nome?
Teu sorriso, novo ânimo.
(h)à(´) glicose na veia!

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