:: Terça-feira, Julho 20, 2004 ::

Materno

Quando o produto produz
não são netos que gorjeiam
Talvez monstros sem forma exata.
Não há nomes para produtos
Produzidos por não-naturais.
Mas há mundo para anônimos?

Alguém É por vontade própria?

Se é por vontade de quem
nos pariu e
nos envolve;
nos percebe
nos sente
nos amamenta e
nos ama e
nos e
nos e
nus.

Nus ninguém nos ama.
Apenas pelados
e pornográficos.

A nudez é crua
e transparente,
e isso é broxante.
Ninguém tem vontade
de perceber
sentir
amamentar
e amar nus.

Eu criei
e essa cria criou
suas próprias vontades.
Todas criações possuem vontade própria,
Os criadores não.

:: habitante desse universo 3:53 PM
...
Periférico

Relacionar os paralelos
Cinqüenta pessoas claustrofóbicas
Uma porta azul metálica

Sala de vidro
Putas sedutoras miam lá fora
Quatro paredes
Nenhum teto
Do que vale ter o mundo
se eu não posso tocar.

A alma não se sente.

:: habitante desse universo 3:52 PM
...
Refeição

Coma
enquanto o calor
não esfria

Inspire,
Ninguém sabe
quando haverá
outro dia.

:: habitante desse universo 3:51 PM
...
Insônia

Tem horas que é difícil respirar
Então eu simplesmente morro
Sem precisar de luz

Meus olhos nunca se fecham
Há medo cheirando perto
Me lambendo e me comendo
Preciso saber o que significa força

:: habitante desse universo 3:50 PM
A tudo que produz claridade

Solene às tardes de sol
A vida tem escala cinza
Tudo já foi queimado
O calor não possui fardos
Tardo em tocar teus lábios
A dança se faz em luzes apagadas

O cinza mescla dores
A felicidade não está expressa nas cores
Sobre as horas as folhas jazem
sem efeito, sem sujeito.
Não há ação na tecnologia passiva
Mas há a escrita
Há sonhos e oportunistas

Rica e erótica
Morta que me seduz.
Aproximo-me do mundo
Sugo a seiva, à
parasitas dou a luz

Eu dependo, minto
Eu roubo, sinto
Comer e ceder
Acima do rebanho
sou deus para niilistas.
É impossível estar nos dois lados
Então eu não estou
Eu me erro
Sou nenhum lado
As nuvens obscurecem o frio
O mofo rota
os cantos em que toca

A verdade arrota
onde é escuro
Eu não quero cores
prefiro as dores
Eu escolho transcender
Preciso alimentar meus monstros
A unidade zela meu sono
No coma eu me perco
não há segurança
Eu não escolho
O nada é casa e carrasco

Andar só é lógica
Mas meu medo é partilhado
Sem forças, sou devorada
Vermes gostam de carne podre
Comida não existo
Assombro por vingança
Na não-luz me fortaleço
e como

Procurar sentido é fé
Procurar é escolha
Minto e Sinto
Teus lábios são tão pertos
Teu corpo são tantos
Um e três
Demoro encontrar uma língua
A noite está dormente
e se a dor mente
meu tudo, agora
é beleza e prazer.

:: habitante desse universo 3:49 PM
...
Sonoro

Com tempo
Sem livros
Com silêncio
Sem solidão

Lágrimas quietas
Quero voltar para outro lugar
onde todo dia é festa
(e tristeza também)
e eu consiga suspirar:
¿Estou em casa¿.
No meio-dia eu discuta
filosofias amigas
Sábias e singelas.

Ao tempo
eu peço benção.
Beijo selado
e um sorriso repleto de abrigo.

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