:: Quarta-feira, Janeiro 26, 2005 ::

Continente

Ainda que seja mágica
O vento é inseguro
e o ar não propõe sentir
apenas sopro.

Ler os olhos - que não são alma
Até transpirar
arrepios na derme da percepção
E só assim
não pensar na verdade,
e aceitá-la viva.

(Morrer para deixar de ser
E enquanto há sono
Viver)

Superei as trintas noites
de lua vazia
Mas há silêncio que
sempre responde a meu clamor
Eu emudeci
e quando senti o sopro da tua voz
(me) perdi.

:: habitante de mim 1:10 AM
...

A forma do ar

A lua encontro num café
O vinho nos cantos
E o vento?
Esse não encontro no passado
O vento não se presencia na memória

Das vezes que o senti
Não lembro de seu rosto
Nem de como eu o tocava
Sei apenas de seus lábios
que quentes e hábeis
tocavam completo e sincronizado
O corpo sempre desprotegido

E é só, o resto é sonho
Desejos feitos ao escuro
e ao sol
e à pele

O amanhã continua sendo a melhor coisa
que já se fez.

:: habitante de mim 1:02 AM
...
:: Domingo, Janeiro 23, 2005 ::

A alma da alma

é soturno o não estar
compreendido ritmo ventoso
particula da alma
elemento do movimento
é noturno o teu olhar

parte sutil e sem nome
pois nunca coube em palavras
foi sempre sentir
sem pele
e em todo comprimento
do ser
para sempre
fragmentado
:: habitante de mim 12:46 AM
...
:: Segunda-feira, Janeiro 17, 2005 ::

Longe - II

As flores que não via
monitoram o meu ser.
Elas não estão aqui
mas carrego imagens
e aos poucos descubro
que tua linguagem se veste em pele
se fazendo entender
pelo som ofuscado
do brilho, das pedras.

Amores passados morrerão no silêncio
Distância livremente incontável
inexiste perene ao tempo.
Não tirarei nada de seu solo
Nem teu corpo, nem as flores
Pois o perfume sempre chega até mim
Sem corromper o nato, o belo.

:: habitante de mim 6:03 PM
...
:: Quinta-feira, Janeiro 13, 2005 ::

Promessa 1549

Extremamente confusa
Radicalmente suicida
Hoje acordei, e o mundo sorriu totalmente estranho pra mim.
Eu não sorri de volta
Pois tive medo
Inconscientemente não falo com estranhos
Há não ser que esse estranho saiba meu quinto segredo.

O mundo não sabe dos meus segredos
Eu não os contei
Eu não guardo segredos
Eles que me guardam.

Vulgarmente desarmônico
Estupidamente desarmada
O que faço quando sei que não sou mais?
Não me deram garantia nenhuma
Nenhum prazo
Apenas me cuspiram do ventre
E gritaram: - viva!

E lá eu entendo de signos!
Lá eu entendo de verbos!
Viver é ser, não estado.
Gostaria de ser, mas o mundo me foi roubado.
Colocaram esse estranho em seu lugar
E eu junto, sem libido pelo desconhecido.

(Prometo nunca mais gritar símbolos
sem o mínimo de belo,
E culpar os outros por isso.)

:: habitante de mim 3:36 PM
...

Tudo bem que dividimos o mesmo teto, as tpms, as crises, os risos, o sarcasmo... mas por favor... minha flor mais linda escreve divinamente.

Demofobia
(Sandra Espinosa)


Agora lá fora não vejo
senão o mundo
a girar desconexo
fugindo
de tantas pisadas
erradas e tortas.
Agora não penso senão
no deslocamento
a inclinar o homem
para o vazio
tranqüilo
da falta de gravidade.

Mas o que penso eu
em emu célere
devaneio noturno?
Se o planeta sentir
algum peso
em mim
que seja o dos meus pensamentos
absurdos.

Eu suporto o homem.
Eu acredito no amor.

:: habitante de mim 3:34 PM
...

Ateu sem mágoas de Deus

Naquele instante
Nada sobrou
Veio então o vento
E soprou

Carvalhos e Salgueiros
Choravam ao meu passar
Pesado e infantil
Choravam todo pesar
das graças intocadas
As rezas afogadas
no mar desespero

E de joelhos, ainda esperei
Todos os instantes
que jamais alcancei
por não alçar os pés do chão

Apenas voei no que não sobrou
Estendi as mãos para alguém me segurar
As preces se elevaram aos céus
Mas meu corpo nunca soube rezar

:: habitante de mim 3:31 PM
...
:: Terça-feira, Janeiro 11, 2005 ::
education to perform

O meu papel foi queimado
e quando viver se torna improviso
frequentemente se erra
fingindo compreende-los como acertos.

Olhando para os pés ao lado
não aprendo a dança,
ao mesmo tempo meu corpo cansa.
E está no roteiro
que corpo não é mente
não é célula.
Ser corpo é atuar
sem ser autor de seus atos.

Quando a cortina felpuda se abriu
meu ver cegou,
e até hoje não vejo a luz
é ela que me vê, me rastreia
gritando ação!
só que nesse momento
minha fala é muda
meu papel foi queimado
e não encontro a porta da rua.

:: habitante de mim 3:12 PM
...
:: Sexta-feira, Janeiro 07, 2005 ::
Terremoto

Eu nunca tenho certeza
Já que mentiras me envolvem em seus tentáculos
venosos.
Mentiras são vivas pra sempre
E no sempre ressuscito sem cruz

ou morro para os sonhos
pesados de movimento.
Desperta, tenho medo do que desconheço.
Se apresente a mim
sem ser inteiro e certo
Para que haja novos momentos
Reencarnados no fim

(no fim há luz?).
No fim há sono
para o medonho começo
tão igual e ludibriante.
As diferenças deixaram de ser erros
passaram a sub-tração
deslocando eixos
destruindo meu chão.

:: habitante de mim 6:09 PM
...
Destruição de um Pintor

poderia te pintar
com todas minhas tintas
(anil)
Só o chão não calça
(barro)
o chão é pedra
(calo)

O estado te guia pela mão
(esquerda)
pele solta sobre os ossos
(pele artificial suada)
As palavras estão nuas
(sem pele de pensamento
despidas de sentido)
a tela é construção de ruas

:: habitante de mim 6:08 PM
...
Comentário climático desnecessário

nosso poder de atração aumenta absurdamente no verão. é incrível como tudo se gruda na gente... será que existe alguma lei da física que explique isso?


Lava Agridoce

lá fora a banheira enche
o sal cicatriza os cortes dos pés
(Por que pisas nos cantos?
Temes chorar ao claro?)

aqueles sorrisos
eram sozinhos
pois presentes
se repetem só na memória

lá fora o tudo preenche
é água agridoce com perfume de jasmim
e lava
quente

meus calcanhares
desde ontem
doentes

transborda sabores
dores dormentes
a banheira agridoce suspende
o vazio que não cabe
e escorre
percorre até meu presente

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