Gaiola
Nossos sonhos andam limitados, até ontem quando andava na rua, passei por um sonho que gritava dentro de uma gaiola, não sei porque não o libertei. Talvez medo do cão que o rondava, ou até mesmo medo do que eu poderia provocar, já que também ando fazendo questão de manter meus sonhos presos.
Por entre as grades eles estão mais seguros, pelo menos foi o que minha vizinha disse. Há anos que ela mantém não apenas seus sonhos presos, mas como toda a sua família e sua própria vida. Ela diz que assim é melhor, a sociedade anda muito perigosa, e é melhor prevenir, entregar sua vida antes que alguém lhe roube na próxima esquina.
O que eu penso disso? Ultimamente tenho evitado pensar também, apenas faço o que me dizem que é certo. Confesso que às vezes essa idéia de prender sonhos é um pouco cansativo, eles berram nas gaiolas como animais selvagens ao serem tirados do seu habitat. Berram e choram o dia inteiro, igual ao bebê do lado. Ele também vive trancado, pega sol só pela vidraça do apartamento. Outro dia a babá que cuidava dele quase o matou asfixiado, esqueceu o gás ligado enquanto esquentava água para o banho do bebê. Seus pais trabalham o dia inteiro, acho que nem lembram mais o nome do seu próprio filho. A criança não conhece a substância vida, mas deseja incansavelmente um dia não estar mais entre grades.
Qual teria sido seu maior pecado?
Essa criança atordoa meus pensamentos, ela e esses sonhos são constantes em minha mente... zumbem numa nota infinita, sempre com o mesmo pedido de liberdade. O país é livre, o mundo se diz globalizado e ético, não entendo o que tanto eles exigem.
Eliane Rubim
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