:: Sábado, Dezembro 07, 2002 ::

Medo do escuro

A vida de uma puta é uma autobiografia de cada um de nós. Nossa vida é dividida em dois, e a maior parte dela é com o intuito de vender nosso corpo ao dinheiro. Sortudas são as putas que unem o prazer com o dinheiro, assim eu dizia quando pequena. Mal sabia eu que um dia viria a me tornar uma, mais uma de tantas que estão escondidas em suas casas posando de pessoas normais.
Não, as putas não são pessoas normais, elas são muito mais do que tantos medrosos que escondem seus desejos, que preferem transar no escuro da sociedade, onde ninguém sabe o que tu és realmente. Sou uma puta de bordel, luxuosa, mas não menos importante na sociedade do que as putas de rua.
Pelo meu corpo estão marcas de cada amante, ainda sinto o cheiro de cada homem que me apaixonei. Mas não penso em deixar dessa vida, meu amor pelo prazer é bem maior... enquanto sou nova, ainda sou atraente, mas meu corpo não manterá a mesma beleza pela eternidade, a ¿qualidade do produto¿ não será mais a mesma, meu gemido não parecerá tão excitante como agora. Por isso não nego que um dia venha a amar verdadeiramente alguém, como não nego a solidão, pois a sociedade me condenará por ter assumido meu amor ao prazer, a sociedade continuará pisando na minha cabeça, enquanto estes mesmos que me condenam continuam comprando prazer no lado escuro da vida.
Eu tenho medo do escuro, eu sou o escuro. Mas cada olhar recebido foi tão verdadeiro, não sei fingir... se gozei foi por que sentia prazer em cada toque, em cada beijo. Meu corpo é movido pelo prazer, meus seios pequenos, ancas largas... o que seduz o homem não é a mulher objeto, e sim a mulher que domina, que fala a linguagem do sexo, que grita, geme... se entrega por inteiro, sem medos, sem pudor.
Tantas putas já foram amadas de forma tão intensa e verdadeira. Hoje declaro meu amor a elas, elas são as pessoas mais puras e verdadeiras que conheço. É nelas que me inspiro a cada minuto, aprendi a admirar a beleza do ser mais repugnante... sim, ele também é belo. Pois é nos braços de uma puta que a pessoa se assume por inteiro, torna-se transparente. Sente-se seguro no colo de uma puta, pois sabe que essa mulher enfrentou o medo do escuro, o medo escuro da sociedade.

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